O Semana Pop relembra personagens e referências do naufrágio que entraram no clássico de 1997 após a histórica tragédia com a embarcação.
O naufrágio do Titanic aconteceu há mais de um século, mas continua atraindo a curiosidade de muita gente. E algumas dessas pessoas chegam a investir muito dinheiro para tentar chegar o mais próximo possível da embarcação, como a gente pode ver ao longo de toda essa semana.
Um submarino com cinco passageiros iniciou uma expedição, no sábado (17), para ver os destroços do Titanic. Mas desapareceu menos de duas horas depois do início de sua descida ao fundo do mar. Nesta quinta-feira (22), foi confirmada a morte de todos os passageiros.
Para quem não tem interesse, coragem ou dinheiro suficiente pra embarcar em uma expedição ao navio, James Cameron tentou contar um pouquinho da história do naufrágio no filme “Titanic”, em 1997.
E o Semana Pop conta o que é real e o que é só ficção no premiado filme do cineasta. É importante dizer que o próprio James Cameron já fez 33 expedições aos destroços do Titanic.
O cineasta é um grande aficionado pelo fundo do mar, e já contou que fez o filme porque queria chegar o mais próximo possível do navio. Ele percebeu que levar essa história pra Hollywood aumentava a chance de uma expedição. E realmente deu certo. Tanto que o filme é a quarta maior bilheteria da história e levou 11 estatuetas no Oscar.
Todo esse conhecimento conquistado por Cameron pelas dezenas de visita ao navio também foi usado em outra obra do cineasta, o filme “Avatar: o caminho da água”.
Referências
Cameron misturou as duas coisas e usou um romance fictício entre o icônico casal Jack e Rose para contar a história de uma tragédia real.
Para isso, trouxe referências do que realmente aconteceu com a embarcação e juntou com sua criatividade e licença poética.
É fato, como todo mundo já sabe, que o navio afundou depois de bater em um iceberg. Mais de 1500 pessoas morreram no acidente, que aconteceu em abril de 1912.
O navio afundou de madrugada, por volta das 2h20. E há referências sobre esse horário em cenas do filme, como no relógio que aparece quando a água já toma boa parte da embarcação.
Cameron também reproduziu uma imagem da vida real logo no início do filme, quando mostra um garotinho jogando pião no deck do navio. A cena podia ser apenas a ideia de um momento comum da época. Mas não. Ela é reprodução de uma foto feita por um passageiro do Titanic, mostrando o momento de diversão de seu filho, de 6 anos.
A foto foi preservada porque o pai da família desembarcou em uma das primeiras paradas do navio, antes de acontecer a tragédia.
Ainda no começo do filme, uma fala dita pela mãe da personagem Rose é um dos maiores mitos em torno da embarcação, segundo alguns estudiosos.
Na cena, enquanto eles ainda estão no cais, ela fala que o Titanic “é o navio que todos dizem ser à prova de naufrágio”. Mas o Titanic nunca foi anunciado ou divulgado dessa maneira. Esses boatos surgiram somente depois do desastre.
Réplica de único carro no navio
Outro momento marcante do filme é a cena de sexo de Jack e Rose dentro de um carro. O veículo utilizado no filme é uma réplica de um Renault Type CB Coupe de Ville, de 1912, que foi içado pra dentro do Titanic.
Ele era o único carro dentro do navio e nunca foi encontrado após o naufrágio. Já seu dono, o milionário americano Villiam Carter, foi um dos sobreviventes do acidente.
Como navio afundou
James Cameron se mostrou bastante preocupado em chegar o mais próximo da realidade possível, mas sem deixar de trazer a pegada de drama que Hollywood gosta.
E essa preocupação aconteceu mesmo depois do filme lançado. O diretor chegou a fazer alguns testes com a ajuda de engenheiros e cientistas pra descobrir se a cena em que ele reproduz o momento em que o navio se parte ao meio e afunda de vez foi verdadeiro.
E nesse ponto, há duas questões: sim, o Titanic realmente se partiu ao meio depois que a parte de trás do navio, a popa, já estava com boa parte submersa.
No filme, essa quebra cinematográfica acontece quando o navio já está quase a 90 graus em relação ao mar. Mas estudos mostraram que, para acontecer essa ruptura na vida real, a embarcação não precisa mais do que 23 graus de inclinação.
Ou seja, o filme mostra sim, a realidade, mas dando um tom bem mais dramático. Cameron já disse que, como não dá pra saber exatamente o que aconteceu em relação a isso, ele tentou ser o mais preciso que podia na época.
Primeiro oficial William Murdoch
Em uma das cenas do filme, o primeiro oficial William Murdoch atira contra alguns passageiros na tentativa de manter a ordem durante o acesso aos botes salva-vidas. Mas depois, ele se arrepende e atira na própria cabeça.
A família do oficial não gostou do que viu e garante que Murdoch nunca faria isso sabendo que ainda tinha gente para salvar. Além disso, até hoje ele é considerado um herói por ter conseguido salvar várias vidas naquela noite. E, ainda, segundo alguns relatos, nem dava pra saber se os tiros ouvidos foram dados pra cima ou contra passageiros mesmo.
Cameron chegou a explicar que fazia mais sentido para a história colocar naquela cena o cara que era responsável pelo navio. Mas ele também já se disse arrependido por ter se empolgado com a narrativa sem se preocupar com o impacto que traria pra família.
Molly Brown
Há uma outra personagem da história que reflete tudo o que uma passageira viveu na vida real. Molly Brown é inspirada na socialite americana Margaret Brown, que estava no verdadeiro Titanic.
Quando o navio começou a afundar, Brown ajudou vários passageiros a embarcar nos botes salva-vidas. E quando ocupou seu lugar em um deles, fez de tudo pra que o tripulante voltasse pra resgatar mais gente, já que ainda tinha espaço no bote.
Isso porque, assim como mostra no filme, os botes, que já não eram suficientes para todos os passageiros, partiam sem estarem completamente cheios. Mas voltando a Margaret Brown, ela ameaçou jogar o tripulante ao mar se não retornasse pra mais resgates. E ainda, organizou um comitê pra auxiliar passageiros da segunda e da terceira classe assim que teve acesso ao navio Carpathia, responsável pelo resgate dos sobreviventes do Titanic.
Casal não abandona navio
Outra história retirada da vida real foi a do talvez segundo casal mais famoso do filme: Isidor Straus, que era dono das lojas Macy’s, e sua mulher, Ida.
Eles tinham lugar garantido no bote salva-vidas de número 8, mas Isidor decidiu seguir na embarcação até que todas as mulheres fossem resgatadas. Ida se recusou a deixar o marido e, segundo testemunhas, ela chegou a dizer que eles viveram juntos por muitos anos, então aonde ele fosse, ela iria também. O casal foi visto pela última vez no deck do navio.
Já no filme, a última cena do casal mostra os dois abraçados na cama enquanto o quarto se enchia de água.
E olha só pra esse detalhe: a esposa do diretor-executivo da OceanGate e piloto do submarino que fazia a expedição até o Titanic é descendente desse casal na vida real.
“Nearer, My God, to Thee“
Enquanto o Titanic naufragava, oito músicos de uma orquestra decidiram se reunir e fazer música pra tentar acalmar os tripulantes. Cameron resolveu homenagear os músicos no filme e até hoje, claro, eles são considerados heróis.
Essa parte, sim, é verdadeira. O que não dá para cravar é qual foi a última música tocada por eles. Há várias versões sobre esse momento, mas a ideia abraçada por Cameron para fazer esse registro foi a faixa “Nearer, My God, to Thee” (“Mais perto, meu deus, de ti”).
Segundo um amigo de Wallace Hartley, líder do grupo, o músico havia dito certa vez que essa seria a música que ele tocaria se estivesse em um navio afundando.