Nos últimos 70 anos, a ficção científica vem recorrentemente tratando do que chamamos de “upload mental”, ou a possibilidade da mente humana viver de outras maneiras após a morte do nosso corpo físico. “Subir a mente à nuvem” ainda é uma realidade bem distante, mas a ciência já fez alguns avanços que podem indicar um futuro onde isso seria possível.
Mais recentemente, em 2016, um programa de TV chamado The Immortalist (O Imortalista, em tradução livre), da BBC Horizon, trouxe a história de um milionário russo que planejava criar uma tecnologia em conjunto com neurocientistas para subir mentes ao computador, essencialmente vivendo para sempre. Nele, foi feita uma previsão de que o feito seria possível em 2045.
No momento, é bastante improvável que isso aconteça, mas já demos alguns passos para entender melhor o cérebro humano e, talvez, emular ou reproduzir as capacidades do órgão. Simular as capacidades de um cérebro inteiro é um caminho em potencial, baseado em escaneamentos detalhados de sua fisiologia e atividade.
É possível reproduzir a mente humana?
Até agora, a técnica mais promissora para o upload da mente viria do “escanear e copiar” o cérebro, ou seja, uma cópia funcional do órgão realizada a partir de um escaneamento completo, feito, por exemplo, com microscopia eletrônica. Pesquisadores da Universidade de Oxford já comentaram que o esforço irá requerer uma engenharia formidável, mas que seu objetivo é “bem definido, e aparentemente atingível com a extrapolação da tecnologia atual”.
Alguns cientistas, no entanto, discordam, geralmente com base em dois princípios. Um deles é a separação da mente e do corpo. Muitos acreditam que o cérebro está “incorporado” e só funciona porque se relaciona com outras partes do corpo e o ambiente com o qual interagimos — um dos motivos que levam à sugestão de que a inteligência artificial só criará consciência quando tiver um corpo, aliás. Pesquisas que ligam as funções cerebrais ao intestino também fazem parte da discussão.
Outra questão é que o tal upload da mente supõe que a mente é um produto direto do que o cérebro faz, como algo unicamente fisiológico. Nossa mente e consciência, no entanto, são largamente consideradas algo maior e mais efêmero do que a função pura e simples de um cérebro biológico. Como reproduzir isso em um ambiente digital? A falta de resposta para essa pergunta é uma das maiores dificuldades no esforço da transferência mental.
Tecnologias cerebrais
O que chamamos de neurotecnologia pode ser definido como os métodos para gravar ou modificar diretamente a atividade cerebral. Temos visto rápidos avanços nas interfaces cérebro-computador nesse sentido, com implantes cerebrais que permitem a pacientes com paralisia controlarem computadores com o pensamento ou até andar com próteses controladas eletronicamente.
Junto aos avanços na inteligência artificial, essa tecnologia nos ajuda a decifrar as ondas cerebrais cada vez mais detalhadamente. No futuro, poderemos até conseguir “escrever” no cérebro ou modificá-lo. Com isso, entram em cena questões éticas e legislativas, já que lidar com órgãos humanos, principalmente o que se considera que forma todo o nosso ser, é um assunto sério e que merece atenção e guias de ação rígidos.
Emulador de cérebros
Não sabemos quando será possível emular o cérebro humano, se em 100 anos ou mais, e como um upload da mente seria nesse caso, na eventualidade disso ser possível. Lembremos que o primeiro imageamento por ressonância magnética foi feito há apenas 50 anos, e, neste mesmo ano, pesquisadores da Universidade Duke conseguiram escanear um cérebro de camundongo inteiro na maior resolução já atingida — 65 milhões de vezes mais precisa do que antes.
A tecnologia avança rapidamente, e é fácil perder a noção de quão rápido estamos indo no curto tempo de vida humano. Enquanto debates como esse permeiam a comunidade científica, muitos leigos não fazem ideia de que há pesquisas sérias envolvendo emulação cerebral e upload da mente.
Alguns cientistas, como Angela Thornton, da Universidade de Nottingham, buscam saber o quanto o público está ciente de tais pesquisas e qual sua opinião sobre o assunto, incluindo a infame pergunta: você faria upload da própria mente para um computador? São questões com as quais teremos que nos acostumar nas próximas décadas.