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Por que a população do Japão diminuiu pelo 14º ano consecutivo

Envelhecimento acelerado, baixa natalidade e declínio populacional desafiam país enquanto governo busca soluções

A população do Japão registrou uma queda pelo 14º ano consecutivo, atingindo 123,8 milhões de pessoas em outubro de 2024, uma redução de 550 mil (0,44%) em relação ao ano anterior, segundo dados divulgados pelo Ministério do Interior na segunda-feira (14).

O envelhecimento acelerado, aliado à baixa taxa de natalidade, intensifica os desafios demográficos do país, que enfrenta a diminuição da força de trabalho e pressões sobre o consumo e o sistema previdenciário.

O número de idosos com 65 anos ou mais alcançou um recorde de 36,24 milhões, equivalente a 29,3% da população, enquanto a faixa etária de menores de 15 anos caiu para 13,83 milhões (11,2%), o menor índice já registrado.

“A taxa de natalidade continua diminuindo porque muitos que desejam ter filhos não conseguem realizar esse sonho”, disse o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi. Ele afirmou que insegurança no emprego e mudança de valores sociais são alguns dos fatores que têm feito os jovens não priorizarem o casamento.

Sem considerar os estrangeiros, a população no país caiu ainda mais. Os cidadãos japoneses chegaram a 120,3 milhões, uma perda de 898 mil pessoas em relação ao ano anterior, segundo o governo.

O declínio só não foi maior devido ao aumento de 340 mil residentes estrangeiros, que impulsionaram um crescimento social líquido pelo terceiro ano consecutivo. Apesar disso, a política de imigração japonesa permanece restritiva, limitando a entrada de trabalhadores estrangeiros a vistos temporários.

Entre as 47 províncias do país, apenas a capital Tóquio e Saitama registraram crescimento populacional, com taxas de alta de 0,66% e 0,01%, respectivamente. Nos demais locais, as quedas chegaram a ser até severas, como em Akita (-1,87%), Aomori (-1,66%) e Iwate (-1,57%).

Para enfrentar a crise, o governo japonês anunciou medidas como aumento de salários para jovens, apoio financeiro à criação de filhos e incentivos ao casamento. “Continuaremos a promover políticas para criar uma sociedade onde todos que desejam ter filhos possam criá-los com tranquilidade”, disse Hayashi.

Menor número de nascimentos em 125 anos

Em 2024, o Japão atingiu o menor número de nascimentos já registrado em 125 anos, com apenas 720.988 bebês nascidos, uma queda de 5% em relação ao ano anterior, segundo dados divulgados em fevereiro pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do país.

Em contrapartida, o número de mortes alcançou um recorde de 1,6 milhão, resultando em uma diminuição populacional de quase 900 mil pessoas – a maior já registrada na história do país. Isso significa que, para cada bebê nascido, duas pessoas morreram.

É o nono ano consecutivo de recordes negativos no índice de nascimentos. A redução anual, que não mostra sinais de desaceleração, ocorre apesar das iniciativas do governo para estimular a natalidade.

O primeiro-ministro Shigeru Ishiba reconheceu que os esforços para reverter a tendência ainda não surtiram efeito. “Precisamos estar cientes de que a queda nos nascimentos não foi interrompida. No entanto, o número de casamentos aumentou, e há uma relação estreita entre casamentos e nascimentos. Devemos focar nisso”, disse à revista britânica The Economist.

Casamentos sobem, mas não o suficiente

Em 2024, o Japão registrou 499.999 casamentos, um aumento de 2,2% em relação a 2023, quando o número caiu abaixo de 500 mil pela primeira vez em 90 anos. Apesar da ligeira recuperação, especialistas alertam que o impacto da pandemia de Covid-19, que reduziu os casamentos em 12,7% em 2020, ainda reflete na taxa de natalidade.

“Esse efeito pode persistir até 2025”, disse Takumi Fujinami, economista do Instituto de Pesquisa do Japão, à agência de notícias Reuters.

A queda nos nascimentos foi observada em todas as 47 províncias do país, superando até as projeções mais pessimistas do governo. O Instituto Nacional de Pesquisa Populacional e Previdência Social estimava que o número de nascimentos só atingiria a faixa de 720 mil em 2039, mas a realidade chegou 15 anos antes.

Entre os cidadãos japoneses, o total de bebês nascidos deve ficar abaixo de 700 mil pela primeira vez, dado que será confirmado em junho.

Envelhecimento rápido e medidas drásticas

Com quase 30% da população acima dos 65 anos, o Japão é o país que envelhece mais rápido no mundo. O governo vê os anos até 2030 como a “última chance” para reverter o declínio, especialmente com a geração dos anos 1990 (atualmente em idade fértil) sendo crucial para a mudança. “Estamos à beira de saber se podemos continuar funcionando como sociedade”, chegou a dizer o ex-primeiro-ministro Fumio Kishida em 2023.

Entre as medidas adotadas, estão a expansão de creches, subsídios para moradia e até um aplicativo de namoro estatal para incentivar casamentos. Em uma iniciativa mais ousada, o Governo Metropolitano de Tóquio, um dos maiores empregadores do país, lançou uma semana de trabalho experimental de quatro dias para dar mais tempo às famílias.

A combinação de menos nascimentos e mais mortes eleva o peso sobre a população ativa. Estima-se que, até 2040, os gastos com previdência social cheguem a 169 trilhões de ienes (cerca de R$ 6,4 trilhões), um aumento de 28% em relação a 2020, segundo o Instituto de Pesquisa Mitsubishi.