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Paquistão: cristão pode pegar pena de morte por uso do Facebook

Em 17 de março, Arsalan Gill, um jovem cristão de 24 anos, foi preso no Paquistão sob acusações de blasfêmia, após supostamente ter compartilhado conteúdo blasfemo em grupos de bate-papo do Facebook.

A prisão ocorreu quando Arsalan, que trabalhava como varredor, voltava para casa, no bairro Railway Quarters, em Mughalpura, Lahore. A informação foi confirmada por seu irmão, Suleman Gill, que relatou que a família foi surpreendida pela prisão e pela acusação.

De acordo com Suleman Gill, a família foi informada sobre a detenção de Arsalan por um oficial da Agência Federal de Investigação (FIA) na noite de sua prisão, mas não teve permissão para se encontrar com ele naquele momento.

“Na manhã seguinte, quando finalmente conseguimos encontrá-lo brevemente, ele nos disse que algumas pessoas desconhecidas o adicionaram a dois grupos no Facebook sem seu conhecimento e que ele não tinha ideia do conteúdo que estava sendo compartilhado nessas páginas”, contou Suleman Gill, segundo informações do The Christian Post.

Arsalan Gill foi acusado sob várias seções da controversa lei de blasfêmia do Paquistão, incluindo a Seção 295-C, que prevê a pena de morte, conforme o First Information Report (FIR) apresentado pela FIA. Ele também foi acusado de violar a Seção 11 da Lei de Crimes Eletrônicos do Paquistão de 2016, que prevê até sete anos de prisão por disseminação de conteúdo que possa promover ódio inter-religioso, sectário ou racial.

Defensores dos direitos humanos levantaram preocupações sobre um possível esquema de “grupo empresarial de blasfêmia”, que, segundo a Comissão Nacional de Direitos Humanos e a Divisão Especial da Polícia de Punjab, tem prendido centenas de pessoas, incluindo cristãos, em casos falsos de blasfêmia online.

O advogado Lazar Allah Rakha, que representa várias vítimas de acusações falsas, afirmou que a FIA estaria conspirando com advogados e ativistas islâmicos para extorquir dinheiro e fazer uso indevido das leis de blasfêmia.

A família de Arsalan Gill, de situação financeira precária, não tem recursos para contratar um advogado de defesa. “Meu pai trabalha como diarista, enquanto Arsalan e eu trabalhamos como varredores. Vivemos em um quarto alugado e mal conseguimos cobrir as despesas diárias da nossa família”, explicou Suleman, apelando por ajuda a grupos cristãos.

Em fevereiro, o Tribunal Superior de Islamabad emitiu uma recomendação ao governo paquistanês para formar uma comissão de investigação sobre supostos conluios entre a FIA e clérigos islâmicos. A comissão teria o objetivo de apurar as acusações de falsas prisões de mais de 400 pessoas, inclusive cristãos, em casos de blasfêmia online. A comissão seria composta por um juiz aposentado, um ex-funcionário da FIA, um estudioso e um especialista em tecnologia da informação, conforme a ordem do juiz Ejaz Ishaq Khan.

O tribunal, em uma audiência em 21 de março, expressou insatisfação com a lentidão na resposta do governo às petições sobre esses casos. O juiz destacou que o Ministério do Interior não havia fornecido uma declaração definitiva sobre a constituição da comissão de inquérito e que a FIA não havia esclarecido se as evidências contra os acusados haviam sido fabricadas.

Em meio a essas tensões, o Paquistão foi classificado em oitavo lugar na Lista Mundial de Perseguição de 2025 da Portas Abertas, que aponta os lugares mais difíceis para ser cristão.