Enquanto Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, enrola para decidir o destino do PL da Anistia, a Polícia Federal bate à porta de sua base eleitoral na Paraíba.

Enquanto Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, enrola para decidir o destino do PL da Anistia, a Polícia Federal bate à porta de sua base eleitoral na Paraíba.
A segunda fase da Operação Outside foi deflagrada na quinta-feira, 3 de abril, mirando suspeitas de fraudes, superfaturamento e desvio de verbas federais em Patos (PB), cidade comandada por ninguém menos que o pai de Hugo, o prefeito Nabor Wanderley (Republicanos). E no centro da investigação, um contrato de mais de R$ 6 milhões, bancado por emendas do orçamento secreto carimbadas pelo próprio Hugo Motta.
Hugo Motta diz que não cederá à pressão para aprovar o PL da Anistia. Mas a pergunta é: pressão de quem?
A verdade é que o PL da Anistia virou moeda política. Hugo e o pai não são oficialmente alvos da operação — ainda. Mas Brasília tem suas regras não escritas: quem obedece, é protegido; quem desafia o sistema, vira manchete policial.
Não é a primeira vez que a Justiça avança justamente quando um político hesita em cumprir seu papel no teatro das aparências. E não será a última. A operação da PF chega como um lembrete: quem segura a caneta não pode esquecer que também pode virar alvo.
O pacto informal que sustenta os bastidores do poder é simples — proteja o sistema, e o sistema protege você. Falhe, e o custo virá em forma de mandado judicial, manchetes sensacionalistas e desgaste político.
Essa é a política brasileira em sua forma mais crua e vergonhosa. O Congresso não legisla — negocia. E cada decisão, cada pauta, cada “consultarei as lideranças” é apenas o verniz de um jogo podre onde vale tudo, menos contrariar o esquema.
Porque em Brasília, quando o jogo aperta, justiça e vingança costumam usar a mesma toga.
Por Karina Michelin. Jornalista