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O “jogo de xadrez econômico” de Donald Trump e a nova ordem mundial

O aumento das tarifas americanas sob a liderança do presidente Donald Trump tem gerado debates. Enquanto críticos enxergam essas medidas como protecionistas e arriscadas, há uma visão estrategicamente otimista que destaca seus efeitos positivos, tanto para os Estados Unidos quanto para parceiros comerciais como o Brasil.

As tarifas impostas por Trump, como os 25% sobre aço e alumínio e as taxas recíprocas que chegam a 54% dependendo do país, têm um objetivo claro: fortalecer a indústria nacional americana. Ao encarecer os produtos importados, os Estados Unidos incentivam a produção local, reativando setores como o siderúrgico e o automotivo. O impacto disso é direto: mais empregos, mais arrecadação e maior independência industrial.

Projeções sugerem que essas tarifas podem gerar mais US$ 600 bilhões em receita, montante que pode ser investido em infraestrutura, programas sociais ou cortes de impostos. É um estímulo fiscal disfarçado de política comercial.

Neste mês, o mercado de ações americano caiu cerca de 20%, mas isso pode não ser um acidente – é parte de um movimento deliberado. Segundo Warren Buffett, um investidor americano, esse é o plano econômico mais ousado e inteligente que ele viu em mais de 50 anos.

Trump estaria “derrubando” o mercado para redirecionar o capital para os títulos do Tesouro americano. Com mais demanda por esses papéis, os rendimentos caem, pressionando o Federal Reserve a reduzir as taxas de juros, o que pode acontecer já em maio. Juros mais baixos permitem ao governo refinanciar sua dívida trilionária a um custo menor, além de enfraquecer o dólar e reduzir taxas do empréstimo da casa própria, medidas que impulsionam o consumo interno e aliviam a classe média.

As tarifas não apenas protegem a indústria, mas também uma ferramenta de negociação internacional. Trump as utiliza para forçar países a reduzirem suas próprias barreiras, buscando acordos comerciais mais equilibrados.

Essa mudança abre portas para o agronegócio brasileiro. Com os EUA diminuindo a importação de países como China (54% de tarifa) e Vietnã (46%), o Brasil que enfrenta uma taxa bem mais leve, de 10% na tarifa geral pode se posicionar como um fornecedor estratégico de soja, carne e outros produtos. A demanda chinesa por commodities brasileiras já cresceu em episódios anteriores de tensão comercial, e pode se repetir com força.

Com os EUA menos acessíveis para exportadores tradicionais, outros mercados ganham protagonismo. O Brasil, por exemplo, pode redirecionar sua produção de aço, carne e grãos para Ásia, Europa ou América Latina. Isso não só protege os produtores nacionais, como também oferece oportunidades de expansão comercial como pode derrubar as barreiras imposta ao Brasil pela União Europeia ou mesmo finalizar o acordo MERCOSUL/ UE.

Além disso, a oferta excedente pode ser absorvida internamente, com queda de preços para o consumidor brasileiro, fortalecendo o mercado interno. A longo prazo, essa diversificação pode tornar a economia brasileira mais resiliente e menos dependente dos EUA.

Uma das críticas às políticas econômicas de Trump é o impacto sobre o mercado financeiro. No entanto, há uma lógica por trás da redistribuição. Atualmente, cerca de 94% das ações estão nas mãos de apenas 8% dos americanos. Ao reduzir temporariamente os lucros do mercado, Trump estaria tirando dos mais ricos no curto prazo e beneficiando a classe média com preços mais baixos de alimentos, habitação e crédito.

Um exemplo prático: o aumento na produção agrícola doméstica está ajudando a baixar o preço dos ovos e outros alimentos básicos.

As políticas de Trump, especialmente o uso de tarifas, manipulação de mercado e pressão sobre o Fed, formam uma estratégia complexa mas com lógica. Trata-se de um jogo de xadrez econômico, onde cada movimento visa fortalecer a economia americana, proteger a indústria local e redistribuir riqueza.

Para o Brasil, isso não precisa ser uma ameaça. Pelo contrário, pode ser uma janela de oportunidade para reposicionar sua economia no cenário global, diversificar parceiros e aproveitar a demanda deixada por concorrentes mais penalizados.

Se bem compreendidas e estrategicamente aproveitadas, essas mudanças podem ser catalisadoras de crescimento e transformação para países que souberem se adaptar a essa nova ordem que está surgindo.

Por Carlos Arouck | Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas