‘Como assim um juiz pode lançar mão de um inquérito para fazer pressão política?’, pergunta o articulista Mario Sabino, sobre decisão de Alexandre de Moraes

‘Como assim um juiz pode lançar mão de um inquérito para fazer pressão política?’, pergunta o articulista Mario Sabino, sobre decisão de Alexandre de Moraes
Alexandre de Moraes mandou uma investigação sobre Gilberto Kassab voltar da primeira instância para o STF, a pretexto da “mudança de entendimento” do tribunal sobre foro privilegiado.
Nada mais me surpreende no Brasil, mas eu ainda fico espantado com alguns acontecimentos, quando não verdadeiramente chocado, e esse é um deles.
A investigação é sobre uma propina de R$ 16 milhões que Gilberto Kassab teria recebido da JBS, em 2016. De acordo com o que foi noticiado pelo jornalista Igor Gadelha, o ministro teria o objetivo de usá-la para pressionar Gilberto Kassab a fim de que o partido dele, o PSD, não apoie o projeto de anistia aos condenados pelo 8 de janeiro.
Como assim um juiz pode lançar mão de um inquérito para fazer pressão política? Pois no Brasil, ele pode, sem que ninguém ou quase ninguém veja problema na enormidade. “Para fontes do Planalto ouvidas pela coluna, Kassab ‘tem experiência o suficiente’ na política para ‘não querer comprar briga’ com o STF, especialmente com Moraes”, publicou Igor Gadelha. Normalizar o anormal, porém, não transforma o errado em certo. Não transforma o ilegal em legal.
Sabe-se que Alexandre de Moraes e Gilberto Kassab não se bicam. O primeiro foi secretário municipal de Transportes durante a gestão do segundo como prefeito de São Paulo e pediu demissão depois de atritos com o chefe Mario Sabino.
Quando se diz que Alexandre de Moraes vai pressionar Gilberto Kassab em relação ao projeto de anistia, isso significa que ele condenaria ou absolveria Gilberto Kassab a depender da posição que o PSD adotar sobre o assunto. Ou seja, é o oposto do que se entende por Justiça, porque a coisa fica no terreno do interesse pessoal, da chantagem e da sua área adjacente, a da vingança. Nenhuma “mudança de entendimento” do STF é capaz de mudar esse fato.
Aqui em São Paulo, sabe-se que Alexandre de Moraes e Gilberto Kassab não se bicam. O primeiro foi secretário municipal de Transportes durante a gestão do segundo como prefeito de São Paulo e pediu demissão depois de atritos com o chefe. Quando Geraldo Alckmin pensou em se filiar ao PSD, ouvi, em uma conversa profissional, que o ministro o teria convencido a escolher a opção PSB, partido pelo qual o ex-tucano seria vice na chapa de Lula (não é normal também).
O histórico entre ambos já seria suficiente para que Alexandre de Moraes se declarasse impedido de julgar qualquer processo relacionado a Gilberto Kassab. Mas é o muito pelo contrário que vale no país do vale tudo, e não adianta se perguntar aonde isso vai parar, porque já chegamos onde tudo está mal parado.
Fonte: Revista Oeste