Mãe após acidente com o filho: “Passei a acreditar em Deus”
Aparecida Guimarães e Davi foram vítimas de tombamento de ônibus; menino teve braço decepado e reimplantado
Um grave acidente de ônibus ocorrido na última sexta-feira (6), em São Cristóvão, Rio de Janeiro, restaurou a fé de Aparecida Cristina Guimarães. A camelô retornava de um dia de trabalho com o filho Davi, de 8 anos, e a cachorrinha deles, Pandora, quando o ônibus em que eles estavam tombou, decepando o braço da criança. Em depoimento ao jornal O Globo, a mulher fez um relato detalhado dos momentos de angústia, de resgate e do renascimento de sua esperança.
Aparecida conta que, no dia do acidente, havia deixado a comunidade do Jacaré, onde mora, e ido com o filho vender balas no Leblon, pois estava “sem nada para comer em casa”. De acordo com ela, essa é sua fonte de renda desde que mudou-se para o Rio de Janeiro, há nove anos. Eles já estavam retornando para casa, por volta das 21h, quando o acidente de ônibus ocorreu.
– Quando o segundo ônibus chegou, entramos e percebemos que as pessoas estavam reclamando da velocidade. O motorista andava rápido demais e não queria parar nos pontos. Pouco antes de chegar na descida do viaduto da Linha Vermelha, em São Cristóvão, os passageiros gritaram para o motorista ir devagar. Ele não deu ouvidos e continuou. Quando as pessoas gritaram pela segunda vez, já era tarde. O ônibus estava tombando – descreveu.
Aparecida ainda conta que bateu a cabeça durante o tombamento e saiu do veículo às pressas por temer uma explosão.
– Meu filho estava sentado ao lado esquerdo, na janela, segurando o lanche. Eu estava na mesma direção, mas do outro lado com a nossa cachorrinha Pandora no meu colo. Quando o ônibus estava virando, ela pulou no colo do Davi. Eu bati a cabeça. Lembro das pessoas gritando, gente machucada e muita fumaça. Achei que o ônibus fosse explodir. Um rapaz quebrou a janela, e as pessoas começaram a sair por ela. Eu me pendurei e saí. Mas meu filho não estava comigo. Desesperada, voltei para dentro do ônibus para tentar encontrá-lo. Quando percebi, Davi já tinha pulado a janela e caminhava na minha direção – relatou.
De acordo com ela, em um primeiro momento, Davi não percebeu que havia perdido o braço.
– Meu filho foi impressionante. Eu estava preocupada, e ele estava tranquilo perguntando pela Pandora. Estava tão desesperada para salvar meu filho que não vi que ele tinha perdido o braço. Ele segurou na minha mão, com lágrimas nos olhos e com a roupa suja de sangue, dizendo: “Mamãe, meu braço…”. Aquilo partiu meu coração – desabafou.
Aparecida conta que um mototaxista chamado Diego Mendes salvou a vida de seu filho e ainda ajudou a recuperar o membro do menino. Ela descreve o homem como “um anjo enviado por Deus”.
– Ele [Diego] foi rápido ao levar Davi para o hospital e depois levar o braço dele no gelo para a equipe médica. Meu filho foi operado por cinco horas. Depois disso, ficou sedado. A última vez que falei com ele foi a caminho do hospital. Estou ansiosa para ouvir a voz dele de novo, vê-lo abrir os olhinhos. Eu fico sentada ao lado dele, dizendo que o amo, na esperança de que ele abra os olhos e veja que sobreviveu – relatou.
Em seguida, a camelô refletiu sobre a restauração de sua fé e afirmou crer que Deus tem “planos melhores” para sua família.
– Não vale ficar questionando “e se” e “por quê”. Se aconteceu isso foi porque Deus permitiu. Porque ele tem planos melhores para nós dois. Eu não era uma mulher de fé, mas passei a acreditar em Deus depois do que aconteceu. Agora é cuidar da recuperação do Davi. Peço todo mundo que faça orações pela vida dele – pediu.
Ela ainda garantiu que irá lutar por justiça e acrescentou que ninguém da empresa de ônibus a procurou até o momento. Por fim, Aparecida compartilhou sobre o trauma psicológico que adquiriu após o acidente.
– Estou aqui com trauma, sem conseguir dormir direito à noite. Toda vez que fecho os olhos vem aquela cena do meu filho caindo. Não quero andar de ônibus. Fecho os olhos e vejo aquele ônibus virando. Ouço o grito das pessoas. A filha de uma amiga que também estava no ônibus teve a bacia quebrada e perdeu parte do couro cabeludo. Ela estava bem mal. O que me conforta é saber que meu filho, tão novo, vai ter uma chance – finalizou.