Telescópio James Webb detectou na atmosfera do planeta traços de substâncias que são produzidas exclusivamente por organismos vivos

Telescópio James Webb detectou na atmosfera do planeta traços de substâncias que são produzidas exclusivamente por organismos vivos
Mesmo que a humanidade tenha acabado de dar um passo histórico na busca por vida extraterrestre, visitar de perto o exoplaneta K2-18b, onde foram detectados possíveis sinais biológicos, ainda está completamente fora de alcance. Localizado a 124 anos-luz da Terra, o planeta está a aproximadamente 1,18 quadrilhão de quilômetros de distância, e uma viagem até lá, com a nave mais veloz já construída, levaria mais de 20 mil anos.
O cálculo leva em conta a velocidade máxima atingida pela Sonda Solar Parker, da Nasa, que chegou a 692 mil km/h (ou cerca de 192 km/s) em 2024. Ainda assim, essa marca está muito distante da velocidade da luz, que seria necessária para cruzar tal distância em pouco mais de um século. Como comparação, nem mesmo projetos teóricos como a nave “Orion”, movida a explosões nucleares, seriam capazes de reduzir esse tempo a uma escala humana.
Apesar do obstáculo da distância, o exoplaneta K2-18b se tornou uma das maiores promessas na busca por vida fora da Terra. Uma equipe internacional de cientistas, utilizando o Telescópio Espacial James Webb, detectou na atmosfera do planeta traços de moléculas como sulfeto de dimetila e dissulfeto de dimetila. Na Terra, essas substâncias são produzidas exclusivamente por organismos vivos, como certas algas marinhas.
As descobertas foram publicadas na revista The Astrophysical Journal Letters e lideradas pelo astrônomo Nikku Madhusudhan, da Universidade de Cambridge. Segundo ele, as características observadas apontam para um planeta coberto por um oceano quente, envolto em uma densa atmosfera rica em hidrogênio e metano, o que o classifica como um planeta “Hycean”, termo criado para descrever mundos com essas condições específicas.
K2-18b é cerca de 2,6 vezes maior que a Terra e 8,6 vezes mais massivo. Ele orbita uma estrela anã vermelha mais fria e menos luminosa que o Sol, dentro da chamada “zona habitável”, onde a água líquida pode existir na superfície.
A presença de DMS (sulfeto de dimetila) é especialmente relevante: na Terra, ele é um dos compostos que conferem ao mar seu cheiro característico, sendo produzido por fitoplânctons. Isso levanta a possibilidade de que processos biológicos semelhantes possam estar em curso no planeta K2-18b.
Ainda assim, os próprios pesquisadores alertam para a cautela. “Não é do interesse de ninguém afirmar prematuramente que detectamos vida”, disse Madhusudhan. Outros cientistas também reforçam que as evidências, embora empolgantes, são preliminares. “É uma dica”, afirmou Stephen Schmidt, da Universidade Johns Hopkins. “Mas não podemos concluir que é habitável ainda.”