JustiçaMundoNotíciasPolícia

Japonês absolvido após 46 anos no corredor da morte recebe indenização de US$ 1,4 milhão

Iwao Hakamata, ex-boxeador de 89 anos, foi condenado injustamente por homicídio quádruplo, em 1968. Advogados dizem que valor não repara danos sofridos

Um tribunal japonês concedeu nesta terça-feira (25) uma indenização recorde de US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 8,13 milhões) a Iwao Hakamata, um ex-boxeador profissional que passou mais de 46 anos no corredor da morte antes de ser absolvido, no ano passado.

O valor pago em indenização representa cerca de US$ 85 (R$ 493, aproximadamente) por cada dia em que Hakamata foi injustamente condenado por um homicídio quádruplo ocorrido em 1966, segundo a emissora pública japonesa NHK.

O homem, hoje com 89 anos, foi preso naquele mesmo ano, aos 30, acusado de assassinar seu chefe, a esposa dele e os dois filhos do casal, encontrados esfaqueados em sua casa em Shizuoka, no centro do Japão.

Na época, ele trabalhava em uma fábrica de processamento de soja após abandonar a carreira no boxe, em 1961.

Hakamata foi condenado à morte em 1968, dois anos depois de ser preso. Ele sempre alegou inocência, acusando a polícia de fabricar evidências e de forçar sua confissão com espancamentos e ameaças.

O único juiz dissidente no caso renunciou ao cargo seis meses depois, abalado por não conseguir impedir a sentença.

Por mais de quatro décadas, Hakamata foi o preso condenado à morte há mais tempo no mundo. Ele só foi libertado em 2014, quando novas evidências, incluindo um teste de DNA, mostraram que roupas manchadas de sangue usadas para condená-lo haviam sido plantadas muito depois dos assassinatos.

Em setembro de 2024, o Tribunal Distrital de Shizuoka o absolveu em um novo julgamento, reconhecendo que ele sofreu “interrogatórios desumanos” e que as provas foram adulteradas pela polícia.

A indenização é a maior já concedida no Japão por uma condenação injusta. No entanto, Hideyo Ogawa, representante legal de Hakamata, afirma que o montante não compensa o sofrimento do ex-boxeador. “O Estado cometeu um erro irreparável que 200 milhões de ienes não podem reparar”, disse o advogado à NHK.

Décadas de detenção deixaram marcas profundas na saúde mental de Hakamata. A irmã dele, Hideko, que liderou uma campanha incansável por sua libertação, disse à CNN no ano passado que o irmão “vive em seu próprio mundo”.

“Às vezes ele sorri feliz, mas é quando está em sua ilusão. Não discutimos o julgamento com ele por causa de sua incapacidade de reconhecer a realidade”, afirmou.

Hakamata foi o quinto condenado à morte no Japão pós-guerra a receber um novo julgamento. Todos eles resultaram em absolvição. No país, a taxa de condenação é de 99%, segundo o Ministério da Justiça.