Depois de passar vergonha em um artigo no Estadão rebatendo os evidentes exageros dos supersalários do judiciário brasileiro, Barroso decidiu repetir a dose, dessa feita rebatendo artigo da Economist sobre o excesso de poderes de Alexandre de Moraes. Mais uma, e o presidente do STF poderá pedir música no Fantástico.
A nota, assim como o artigo no Estadão, está eivada de falácias. Contei 7, e as esponho a seguir na ordem em que aparecem na nota.
1) a nota faz menção ao “colapso das instituições em vários países do mundo, do leste europeu e da América Latina”. A quais países Barroso está se referindo? Talvez se providenciasse exemplos concretos, poderíamos entender melhor do que se trata. Será que é uma mensagem cifrada contra o domínio da chamada “extrema-direita” em alguns países? Com a palavra, o ministro.
2) Barroso usa uma pesquisa DataFolha para afirmar que “não há uma crise de confiança” no STF. Para tanto, soma os números de “confia muito” (24%) com os números de “confia um pouco” (35%), para afirmar que a maioria dos brasileiros confia no STF. Para começar, esses números estão errados. A última pesquisa, de dezembro do ano passado, indicam que 21% confiam muito, não 24%. Mas o problema não é só factual, é também de manipulação estatística. Ora, o “confia um pouco” é o equivalente a “regular”, pois só há 3 opções na pesquisa. Somar com a avaliação positiva é manipular os números. O correto é subtrair o “confia” do “não confia”, para obter a “confiabilidade líquida”. Nesse caso, o resultado seria de -17%. Para termos uma ideia, a confiabilidade líquida dos militares é de +10%. O STF só perde para o Congresso (-31%).