Os dentes adaptados desses animais, conhecidos como narvais, podem desempenhar um papel na caça, na vida social e até no acasalamento, segundo pesquisa
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Os dentes adaptados desses animais, conhecidos como narvais, podem desempenhar um papel na caça, na vida social e até no acasalamento, segundo pesquisa
O narval (Monodon monoceros), uma espécie de baleia que costuma ocupar as águas remotas do Ártico, tem como sua principal característica um dente adaptado que mais parece uma longa presa espiral ou “chifre”. Este animal pode atingir até 3 metros de comprimento e, por conta dos seus registros limitados, ainda leva especialistas a se perguntarem quais as suas funções na natureza.
No entanto, uma nova pesquisa conduzida por uma equipe internacional parece ter, por fim, encontrado as primeiras evidências de que esses mamíferos marinhos usam suas presas para investigar e manipular o seu entorno. Ao todo, 17 comportamentos distintos foram registrados pelos cientistas por meio de câmeras acopladas em drones.
As observações também sugerem que as presas apresentam papéis importantes na instrução social e na reprodução. Detalhes dos resultados foram publicados na quinta-feira (27) no periódico especializado Frontiers in Marine Science.
A caça dos narvais
“Os narvais já eram conhecidos por seu comportamento de ‘presa’, em que dois ou mais deles simultaneamente levantam suas presas quase verticalmente para fora da água cruzando-as”, explica Greg O’Corry-Crowe, autor da pesquisa, em comunicado. “Esse pode ser um comportamento ritualístico para avaliar as qualidades de um oponente em potencial ou para exibir essas qualidades para os pretendentes”.
Na caça, esses mamíferos exibem notável destreza, precisão e velocidade de movimento da presa, e regularmente fazem ajustes para rastrear o alvo. A ponta do “chifre” é usada para interrogar e manipular a vítima.
Foram avistadas, por exemplo, interações com o salmão ártico (Salvelinus alpinus) em que os narvais atordoam o peixe com as presas. Em casos nos quais a força física é mais elevada, a “chifrada” chega até a matar o animal caçado. Veja vídeo:
“Algumas das interações que vimos pareciam competitivas por natureza, com uma baleia bloqueando ou tentando bloquear o acesso de outra baleia ao mesmo peixe-alvo, enquanto outras podem ter sido mais sutis, possivelmente comunicativas e até mesmo afiliativas”, destaca O’Corry-Crowe. “Nenhuma parecia abertamente agressiva”.
Novos achados
A nova pesquisa fornece os primeiros relatos de interações entre narvais, peixes e pássaros. Isso inclui, por exemplo, tentativas de cleptoparasitismo, uma situação de “ladrão de comida”, entre os narvais e as gaivotas-glaucas (Larus hyperboreus), nas quais as aves avançam para roubar os resultados das caças das baleias.
Além disso, os especialistas descobriram que as presas dos narvais têm também outros usos – alguns bastante inesperados, como o forrageamento, a exploração e a brincadeira. Tais comportamentos sociais entre as baleias, como aprender umas com as outras, sugerem que os processos sociais podem acelerar a adaptação comportamental em resposta às mudanças no Ártico.
Para entender como os narvais estão sendo afetados, estudos de campo têm empregado ferramentas inovadoras e não invasivas, como drones, para observá-los em seu ambiente natural sem os perturbar.
“Os drones fornecem uma visão única e em tempo real de seu comportamento, ajudando cientistas a reunir dados cruciais sobre como os narvais estão respondendo a mudanças nos padrões de gelo, disponibilidade de presas e outras mudanças ambientais”, conclui O’Corry-Crowe. “Esses estudos são essenciais para entender o impacto do aquecimento global nesses animais esquivos”.