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Expulso da USP, aluno afirma ter sofrido “perseguição política”

Estudante de Direito, Victor Henrique Ahlf Gomes se pronunciou sobre o caso

Victor Henrique Ahlf Gomes estava prestes a se formar em Direito na Universidade de São Paulo (USP) quando a decisão sobre a sua expulsão da instituição de ensino foi anunciada. Conhecido abertamente por seu posicionamento político de direita, o aluno de 22 anos descreve o caso como “perseguição política”, enquanto a USP o acusa de ter cometido importunação sexual, perseguição e violência de gênero contra uma ex-namorada – também aluna da universidade -, além de discriminação racista e nazista.

Victor Ahlf ingressou na universidade em 2020 e cumpriu todos os créditos, tendo passado nas disciplinas com média geral 9,1 e nota máxima no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). No entanto, ele foi impedido de colar grau em fevereiro deste ano, devido ao imbróglio envolvendo seu relacionamento com uma colega da universidade.

Tudo começou em 2021, com trocas de olhares que levaram a um clima de romance com Sophia Namen Aburjaile, de 20 anos. Eles iniciaram o namoro na época das aulas online devido à pandemia. O relacionamento, contudo, chegou ao fim em 2022, por decisão do próprio Victor, sob a justificativa de que os pais de Sophia não aceitavam o namoro e diziam que ele estava apenas interessado na herança da família.

Após o término, vieram as férias escolares, período em que Sophia viajou para Belo Horizonte, onde reside sua família, e Victor permaneceu em São Paulo. Contudo, no dia 15 de março de 2022, durante a volta às aulas, a jovem procurou Victor interessada em reatar o namoro.

Ao perguntar se ele havia ficado com outras mulheres nesse período, Ahlf reconheceu que esteve com uma outra estudante esporadicamente, mas alegou que não havia significado nada. Sophia ficou insatisfeita com a situação e levou semanas até dizer ter superado a questão, chamando-o para jantar no Shopping Higienópolis.

Durante o encontro, os dois reataram e fizeram planos para o futuro, que envolveriam casamento e filhos. Na semana seguinte, contudo, Sophia mudou de posicionamento, passando a evitar o namorado.

REPUTAÇÃO FERIDA

De acordo com Victor, Sophia passou a espalhar mentiras a seu respeito, dizer que não o havia convidado para jantar, e acusado-o de apertar seu braço com força após uma aula de Direito do Trabalho I, a ponto de deixar hematomas. Rumores de assédio ganharam tamanha proporção que chegaram até o local onde ele fazia estágio.

Victor, então, registrou uma reclamação na ouvidoria da faculdade, dizendo que a ex estava ferindo sua reputação na universidade, e cobrando providências da USP. Ao ser chamada para prestar depoimento, Sophia confirmou que voltou a namorar com Victor, mas negou as difamações. Assim, a USP pediu que Victor tivesse paciência e sugeriu que ele tomasse “outras medidas” que entendesse “adequadas junto às esferas competentes externas à Universidade”.

– Fizeram pouco caso da acusação ser de um homem contra uma mulher, e vi que teria que resolver na Justiça – disse o estudante, em entrevista ao Gazeta do Povo.

Victor, então, registrou um boletim de ocorrência (DR2278-1/2022) contra Sophia em 17 de julho de 2022.

– Tive notícia, por meio de terceiros de que Sophia, minha ex-namorada e colega de turma do curso de Direito da USP, estava divulgando para os alunos da faculdade que eu a estaria continuamente perseguindo dentro e fora da faculdade, bem como divulgou, posteriormente, que eu a teria agredido em meio à aula, por volta das 10h. Além de inverídicas, tais informações foram divulgadas com indiscutível intuito difamatório e calunioso, causando-me danos morais e psicológicos até hoje, sobretudo na faculdade e em meu estágio – declarou no B.O.

INVERSÃO DA DENÚNCIA NA USP

Ele retirou, contudo, o processo na universidade nos meses posteriores, mas ao ouvir a defesa de Sophia, a USP decidiu inverter a denúncia. Foi quando Victor virou alvo de um procedimento interno na instituição, processo que ele chama de “perseguição política”.

– A tônica do PAD [Processo Administrativo Disciplinar] foi procurar na minha vida pessoal opiniões que, para eles, seriam consideradas homofóbicas, racistas, etc – disse o aluno, acrescentando que chegou a ser perguntado sobre questões como sua opinião sobre cotas raciais e nazismo.

Em contato também com o Gazeta do Povo, um dos colegas de Victor, que preferiu não se identificar, falou sobre o depoimento que prestou na USP:

– Me perguntaram até se o acusado nunca tinha feito comentários machistas ou que objetificavam mulheres em contextos descontraídos como um bar. E quando falei “não, nunca”, o professor retrucou, dizendo que não era possível não ter nenhum comentário em um boteco, tomando uma cervejinha com os amigos. Apresentaram uma conversa [de WhatsApp] que eles consideraram racista, e tentando fazer com que a interpretação deles fosse prova cabal de racismo, disseram que eu estava mentindo. Me ameaçaram de encaminhamento de ofício para a polícia porque eu tinha cometido um crime e que, se eu não me retratasse, estaria susceptível a ser preso – assinalou.

Segundo Victor, o print de WhatsApp usado para acusá-lo de racismo era uma conversa entre amigos de direita, que eram acusados de nazistas e fascistas na universidade devido à sua posição política, e brincavam entre si de maneira irônica para, de acordo com ele, levar o preconceito de maneira mais amena.

– Era uma forma irônica de se referir a mim, que tenho sobrenome alemão, mas usado completamente fora de contexto – argumentou.

EXPULSO

Após o caso ser analisado pelo órgão máximo de Direito da USP em setembro de 2024, Victor foi expulso por 34 votos favoráveis, sete contrários e duas abstenções. A comissão deliberativa é integrada por professores, servidores e ex-alunos. Entre os poucos educadores que estiveram ao lado de Victor está José Maurício Conti, docente de Direito Financeiro, que afirma estar “indignado” diante do caso.

– Fui juiz por 30 anos. É um escândalo, analisei o caso e estou revoltado com o que aconteceu com esse menino, um aluno espetacular – afirmou ao Estadão, chamando os demais professores de “acovardados” diante da pressão dos alunos contrários a Victor.

– Participei do julgamento e analisei todas as provas. Uma decisão absurda e profundamente lamentável – acrescentou em contato com o Gazeta do Povo.

A presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Julia Wong, por sua vez, descreveu a decisão como “historicamente importante” para reafirmar a “necessidade de políticas nas universidades para coibir a violência de gênero”.

– Esse comportamento precisa ser desencorajado e extinguido da faculdade – pontuou.

Professora de Direito Penal na USP, Janaina Paschoal comentou o caso pela rede social X, chamando a expulsão de “desproporcional”.

– Todos os créditos cumpridos, notas altas, não poder colar grau? Não se tratasse de um aluno abertamente de direita, o espírito de conciliação teria falado mais alto – acrescentou.

Já o diretor da faculdade de Direito, Celso Campilongo, ressaltou que os processos estão em sigilo e ainda não transitaram em julgado. Ele fala em garantir o “amplo direito de defesa, a presunção de inocência e a privacidade, bem como se evitar a revitimização dos envolvidos”.

No dia 4 de fevereiro, Ahlf chegou a conseguir uma liminar para colar grau, mas na noite anterior à formatura, a procuradoria da USP derrubou a decisão, impedindo o aluno de se formar. Na data da formatura, alguns alunos espalharam cartazes com os dizeres “abusador não é doutor”. Victor segue tentando reverter a decisão, tendo entrado com recurso no Conselho Universitário (CO), órgão máximo da USP. Ele aguarda análise do caso.

Procurada, Sophia Namen não respondeu até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.