O jejum intermitente, apontado por influencers como a melhor maneira de perder e manter o peso, pode causar sérios danos à saúde capilar. Esse efeito colateral indesejado foi encontrado por um novo estudo publicado no periódico Cell Press. O jejum, que ficou amplamente reconhecido por seus benefícios metabólicos, pode causar o atraso na regeneração capilar.
A pesquisa, conduzida em camundongos e complementada por um ensaio clínico em humanos, identificou que o jejum afeta negativamente as células-tronco do folículo capilar (HFSCs), essenciais para o crescimento dos cabelos.
De acordo com Fabiano de Abreu Agrela, neurocientista, membro da Royal Society of Medicine no Reino Unido e diretor do CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito, o achado é significativo para a compreensão dos impactos metabólicos no sistema nervoso e capilar.
“O estresse oxidativo causado pelo jejum, combinado ao acúmulo de ácidos graxos livres nos folículos capilares, pode levar à apoptose das células-tronco. Esse mecanismo prejudica o ciclo de regeneração capilar, atrasando o crescimento dos fios”, explica o pesquisador, que já publicou três estudos sobre o sistema nervoso e sua relação com o cabelo.
O que a ciência revelou
O estudo mostrou que camundongos submetidos a regimes de jejum intermitente apresentaram regeneração capilar significativamente mais lenta do que aqueles com alimentação irrestrita. Enquanto os animais do grupo controle completaram a regeneração capilar em 30 dias, os camundongos em jejum levaram até 96 dias para alcançar um crescimento parcial.
Os pesquisadores atribuíram esse efeito à liberação de ácidos graxos livres pelos adipócitos durante o jejum, o que aumentou os níveis de espécies reativas de oxigênio dentro das HFSCs. “Essas células-tronco, embora essenciais para o crescimento capilar, não possuem a capacidade antioxidante suficiente para lidar com o estresse oxidativo gerado por longos períodos de jejum”, comenta Fabiano.
Além disso, o ensaio clínico em humanos com 49 participantes revelou uma redução de 18% na velocidade de crescimento capilar em pessoas que seguiram uma dieta com 18 horas de jejum diário por 10 dias. Fabiano destaca que o impacto em humanos é mais brando devido ao metabolismo mais lento em comparação aos camundongos, mas não deixa de ser relevante: “Embora o efeito seja menos severo, ele demonstra como mudanças metabólicas podem interferir na regeneração capilar.” Perspectivas clínicas e possíveis soluções
Apesar dos achados, o jejum intermitente não deve ser descartado como prática saudável. “É importante considerar os benefícios gerais do jejum para a saúde metabólica. No entanto, indivíduos preocupados com a saúde capilar devem buscar estratégias de proteção, como o uso de antioxidantes”, sugere Dr. Fabiano.
De fato, a pesquisa mostrou que a aplicação tópica de vitamina E e a manipulação genética para aumentar a capacidade antioxidante das HFSCs podem mitigar os danos causados pelo jejum. “Antioxidantes como a vitamina E têm o potencial de proteger as células-tronco do folículo capilar, criando uma barreira contra os efeitos do estresse oxidativo”, completa o neurocientista.
Colaboração interdisciplinar
O estudo reforça a importância de colaborações entre diferentes especialidades médicas e científicas para compreender melhor o impacto do metabolismo no cabelo. O Fabiano, que trabalha com médicos dermatologistas renomados como o Gustavo Martins e a Thalita Carlesso, referências em transplante capilar no Brasil, aponta que essa pesquisa pode abrir caminhos para novas abordagens terapêuticas.
“Ao integrar o conhecimento do sistema nervoso e do metabolismo capilar, conseguimos não apenas entender os mecanismos, mas também desenvolver tratamentos mais eficazes e individualizados para pacientes que buscam melhorar a regeneração capilar”, conclui.