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Criança autista é agredida por professor durante aula de capoeira no RJ

Imagens só foram vistas pela mãe seis meses após o ocorrido

No Centro Educacional Meirelles Macedo, em Guaratiba, um vídeo registrou o momento em que uma criança de 11 anos, do espectro autista, foi agredida pelo professor de capoeira da instituição.

O episódio ocorreu em setembro de 2023, mas só veio a público após a mãe do menino, Joyce Siqueira, denunciar o caso e ter acesso às imagens seis meses depois. As informações são do Fantástico.

De acordo com Joyce, o filho se irritou após colegas se recusarem a entregar uma bola que ele precisava para o exercício. A recusa gerou uma confusão e, segundo relatos, uma das meninas chegou a agredir Guilherme. Em seguida, o professor de capoeira, Vitor Barbosa, teria derrubado o aluno com uma rasteira, imobilizando-o no chão e segurando-o pelo pescoço.

A escola optou por suspender o aluno por dois dias, alegando desrespeito e agressões aos colegas. Joyce, no entanto, afirma que não recebeu qualquer explicação concreta na reunião, marcada apenas cinco dias após o incidente. “Eu queria ouvir que ele não foi agredido, ou que foi, mas que medidas foram tomadas. Saí de lá sem resposta”, desabafou.

As imagens da agressão só foram apresentadas em março deste ano, durante uma audiência judicial. “Olhei para o professor e disse: ‘Eu vi o que você fez com o meu filho’. Meu braço formigou, meu rosto tremeu. Fui parar no hospital”, contou Joyce, emocionada.

A defesa de Vitor Barbosa alega que a ação foi uma técnica de imobilização para conter o aluno e evitar novas agressões. A direção da escola, por sua vez, afirmou por meio de nota que tomou as providências cabíveis e que o professor não faz mais parte da equipe da instituição.

O trauma, no entanto, deixou marcas profundas em Guilherme. Segundo a mãe, ele passou a apresentar episódios de desregulação emocional intensos. “Ele batia na cabeça, na parede. Coisas que nunca tinham acontecido antes”, relatou. O menino chegou a ser transferido para outra escola, mas não se adaptou e, hoje, recebe aulas em casa.

Especialistas alertam para os impactos graves da violência na vida de crianças com autismo. “O trauma pode gerar aumento de ansiedade, depressão e até prejudicar o desempenho acadêmico”, explica Lucelmo Lacerda, doutor em educação. Ele reforça que o ambiente escolar precisa estar preparado para receber todos os alunos, incluindo os que fazem parte do espectro autista. “A escola é um direito dessas crianças. Do porteiro ao diretor, todos devem estar preparados”, destacou.

Enquanto algumas escolas falham em garantir proteção e inclusão, outras se destacam pelo acolhimento. É o caso da Escola Municipal Rubens Berardo, no Complexo do Alemão, que se tornou referência para mães de crianças autistas da comunidade. Lá, alunos recebem acompanhamento individualizado e têm o direito garantido a um cuidador em sala de aula.

“O autismo dói todo dia. Quando a escola acolhe, tudo muda”, disse Rafaela, mãe de Maria, uma criança autista não verbal. Viviane, mãe dos gêmeos Rafael e Heitor, também comemora: “Aqui eles são amados e respeitados”.