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Conheça o hospital de milhões em que os pacientes são “de mentira”

O edifício tem 4.923,8 m², custou US$ 43 milhões (R$ 233,24 milhões, na conversão direta) e pertence ao Veterans Affairs (VA), agência dos EUA que fornece serviços de saúde vitalícios aos militares veteranos

Ele está a minutos do Aeroporto Internacional de Orlando, na Flórida (EUA) e se chama National Center for Simulation Validation, Evaluation and Testing (SimVET). O SimVET serve para que profissionais de saúde da linha de frente do VA praticam procedimentos e testam tecnologias, de modo seguro, pois não há contato com pacientes verdadeiros.

Como exemplifica a CNBC, caso um grupo de clínicos quiser treinar sua resposta a overdoses causadas por opioides, ou testar ferramenta de inteligência artificial (IA), tudo pode ser simulado com afinco no SimVET.

Representantes do VA apontaram à CNBC que, praticando em ambiente controlado, os profissionais de saúde são capazes de resolver problemas e conseguir que novas tecnologias se tornem viáveis e seguras para implementação com seres humanos.

SimVET é hospital exemplo para a medicina

  • O espaço foi inaugurado em 2016;
  • Ele serve de exemplo sobre como a simulação na medicina vem se tornando cada vez mais comum e sofisticada;
  • O SimVET é um local que pode ajudar a medicina nos testes com a IA, que vem carregando cada vez mais ferramentas médicas;
  • A Administração de Saúde de Veteranos atende, hoje em dia, nove milhões de veteranos em 172 centros médicos estadunidenses;
  • Cada um desses locais tem programa de simulação e, alguns deles, tem até espaço próprio dedicado.

Por sua vez, o SimVET de Orlando é o maior centro de simulação do VA e um dos maiores do país, afirma o Dr. Scott Wiltz, diretor médico da Rede de Aprendizagem, Avaliação, Avaliação e Pesquisa de Simulação do VA (SimLEARN).

Esse tipo de simulação – cenários de alto risco – é algo comum nas forças armadas e na indústria, como a da aviação, na qual pilotos passam horas em simulações de voo.
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Na saúde, já temos profissionais que treinam médicos, além dos óculos de realidade virtual (RV), que seguem crescendo. O SimVET, porém, se sobressai por ir além.

Em entrevista à CNBC, Wiltz afirmou que o objetivo é chegar “o mais próximo [de] nível de realismo possível”.

As salas de cirurgia são um ótimo exemplo. Temos duas salas de cirurgia totalmente equipadas, todos os equipamentos que você normalmente usaria: luzes, braços, máquinas de anestesia reais. Temos até um manequim que responde realisticamente à anestesia.Dr. Scott Wiltz, diretor médico da Rede de Aprendizagem, Avaliação, Avaliação e Pesquisa de Simulação do VA (SimLEARN), em entrevista à CNBC

Segundo a CNBC, o SimVET tem manequins que ostentam variados tons de pele, penteados e características faciais. Alguns, inclusive, podem falar, se mover e até desenvolver complicações.

Um manequim programado para ser idoso tem rugas e veias protuberantes, enquanto há manequins mulheres que podem “dar à luz” a um “bebê”.

Segundo Wiltz, os números, em tese, representam a população de veteranos do VA, além da população estadunidense em geral. Segundo ele, há “bem mais” de duas dúzias de manequins por lá.

Outras características marcantes do SimVET são um longo corredor com luz fluorescente, que abriga diversas salas de exames, além de salas de cirurgias cheias de máquinas e acessórios que lembram um hospital de verdade. O que denuncia a verdadeira “intenção” da instalação são as várias salas de aula e espaços educacionais que por lá existem.

A diversidade do espaço que temos, o realismo que ele traz, realmente, dá a você a sensação completa de que você pode realmente cuidar de pacientes naquele prédio. E nós cuidamos, só que nossos pacientes são manequins e atores.Dr. Scott Wiltz, diretor médico da Rede de Aprendizagem, Avaliação, Avaliação e Pesquisa de Simulação do VA (SimLEARN), em entrevista à CNBC

De acordo com o diretor médico, há cerca de 60 funcionários em tempo integral no SimVET e, costumeiramente, lidam com diversos pilotos e projetos ao mesmo tempo. O local pode oferecer serviços a partir de financiamento do VA.

Amanda Borchers, gerente de segurança do paciente no Lexington VA Medical Center em Kentucky (EUA), participou de um grupo de emergência cirúrgica que visitou o espaço em maio de 2023. Ela afirmou que buscavam melhorar sua resposta a complicações que não se espera em uma cirurgia. Portanto, entraram em contato com a SimVET para dar ideias de testes.

A gerente de segurança indicou que alguns dos veteranos de maior risco têm problemas respiratórios, cardíacos e de circulação, o que pode desencadear problemas repentinos nas cirurgias.

Por conta disso, ela e o restante da equipe queria um novo protocolo para se preparar melhor para algumas dessas condições, tais como a recuperação rápida de sangue e levá-lo para a sala de cirurgia.

Os líderes do SimVET auxiliou-os a criarem várias simulações antes de irem às instalações, além de terem sido conectados a vários especialistas de campo em todo os EUA.

Eles permaneceram por lá durante uma semana. No primeiro dia, começaram às 7h em uma prancheta, passando, depois, por horas, a realizar procedimentos e discutindo problemas com funcionários e especialistas do local.

Você pode falhar, mas falhe com segurança, e, então, você usa isso para fazer uma mudança. E então você faz de novo. E então você faz de novo. A transformação, e o que seríamos capazes de fazer em uma emergência não antecipada, foi incrível.Amanda Borchers, gerente de segurança do paciente no Lexington VA Medical Center em Kentucky (EUA), em entrevista à CNBC

Borchers disse ter participado de simulações no passado, contudo, afirmou jamais ter experimentado nada comparado ao SimVET. Ela explicou que o espaço imita o ambiente no qual ela já trabalha diariamente, possibilitando que ela praticasse “cada detalhe” do que faz no dia-a-dia. “Você, realmente, poderia fazer uma cirurgia ali mesmo”, destacou.

Ao fim da semana, a equipe deixou o SimVET com estrutura para novo código médico, resposta de cada localidade médica para certo tipo de emergência. Um exemplo que a CNBC trouxe é o chamado “código azul”, no qual os profissionais de saúde entram em ação após um paciente sofrer parada cardíaca ou respiratória.

O novo código criado por Borchers e sua equipe será chamado de um “código SET”, que significa, em português, “equipe de emergência cirúrgica”. Dessa forma, o SimVET deu a eles a prática inicial e garantia que precisavam para sua ideia ir adiante, mas precisavam colocar o resto do Lexington VA Medical Center alinhado com tais práticas.

Para isso, apresentaram o novo código aos líderes executivos do espaço médico e apontaram quais pessoas e recursos se envolveriam com ele. Segundo a moça, o centro médico passou a realizar suas próprias simulações e seguiu ajustando o código em pequenos bolsões do hospital nos meses seguintes. Expandiram seus testes a seguir e começaram a conduzir simulações no hospital inteiro.

Atualmente, o centro médico no qual Borchers trabalha está atualizando seu sistema de paging, de modo que, assim que ele for atualizado, o código será simulado novamente. Espera-se que o código SET seja utilizado com pacientes reais entre dois e três meses.

A gerente de seguança afirma que espera ver o SET sendo utilizado em centros médicos do VA em todo os EUA, sendo que equipes de alguns estados, como Tennessee, Mississippi, Louisiana, Arkansas e Texas, já tiveram treinos simulados.

Felizmente, isso não veio de um evento adverso, mas sim de pessoas dizendo: ‘Sabe de uma coisa, estamos fazendo as coisas muito bem, mas achamos que podemos fazer ainda melhor’.