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Como um influencer remou 40 km em um bote para visitar a tribo mais perigosa do mundo

Preso pela polícia indiana, homem deixou um refrigerante e um coco para os nativos da ilha

O americano Mykhailo Viktorovych Polyakov, de 24 anos, foi preso após tentar entrar em contato com a tribo isolada da Ilha Sentinela do Norte, no oceano Índico, onde visitantes indesejados frequentemente são mortos. Segundo a polícia indiana, ele navegou até a ilha no último sábado (29) utilizando um barco inflável equipado com GPS.

Polyakov já havia sido detido no início da semana por um pouso não autorizado na ilha e, de acordo com o jornal MailOnline, fez outras duas tentativas anteriores, em outubro do ano passado e em janeiro deste ano. A polícia ainda apreendeu no quarto de hotel de Polyakov itens como binóculos, uma câmera GoPro e um colete salva-vidas.

Segundo o relatório policial, Polyakov partiu da praia de Kurma Dera por volta da 1h da manhã, levando consigo uma lata de Coca-Cola Diet e um coco. Nove horas depois, chegou à costa nordeste da ilha e, de seu barco, usou binóculos para observar a área. Ele então assobiou repetidamente por cerca de uma hora, tentando atrair a atenção dos nativos, mas não obteve resposta.

Em um gesto inusitado, Polyakov desembarcou brevemente na ilha, deixando a Coca-Cola Diet e o coco como oferendas. Também coletou amostras de areia e registrou tudo em vídeo antes de partir.

Ao retornar ao continente indiano, foi preso após um pescador local alertar a polícia. As autoridades acreditam que ele planejou meticulosamente a expedição, estudando as condições do mar, as marés e possíveis pontos de acesso à ilha.
Histórico de violações

A investigação revelou que Polyakov já havia tentado interações ilegais com outras tribos indígenas da região. Em janeiro, ele viajou para a ilha de Baratang e filmou ilegalmente membros da tribo Jarawa. Agora, ele enfrenta acusações por violação das leis de proteção aos povos indígenas.

Polyakov é criador de conteúdo e mantém um canal no YouTube, chamado “Neo-Orientalist”, com cerca de 400 inscritos. O nome faz referência ao conceito de neo-orientalismo, que critica a forma como países ocidentais retratam o mundo islâmico.

O americano ganhou notoriedade no ano passado ao publicar uma série de vídeos sobre sua estadia de três semanas no Afeganistão sob o regime do Talibã. Nas imagens, ele aparece caminhando pelas ruas, interagindo com moradores locais e posando ao lado de combatentes do Talibã, chegando até mesmo a segurar uma metralhadora e usar um cinto de munição.

Em outra gravação, Polyakov explora uma base militar abandonada dos Estados Unidos, mostrando danos causados por tiros e estilhaços. Em um vídeo intitulado “Road Rage Afghan Edition”, ele afirma que uma briga de trânsito terminou em tiroteio.
Risco à tribo isolada

A Ilha Sentinela do Norte é um dos locais mais isolados do planeta. Desde 1996, o governo indiano proíbe qualquer aproximação a menos de cinco quilômetros da ilha para proteger a tribo dos Sentineleses, que vivem sem contato com o mundo exterior. Antropólogos estimam que entre 50 e 100 pessoas habitam o local, e seu estilo de vida permanece praticamente inalterado ao longo dos séculos.

O último contato conhecido com a tribo terminou de forma trágica em 2018, quando o missionário cristão John Allen Chau foi morto por flechas ao tentar evangelizar os Sentineleses. Em 2006, dois pescadores que se aproximaram da ilha também foram mortos, e seus corpos foram pendurados em estacas voltadas para o mar.

Especialistas alertam que qualquer interação com povos isolados pode representar um risco extremo, pois eles não possuem imunidade a doenças comuns do mundo exterior, como gripe ou sarampo.

A diretora da organização Survival International, Caroline Pearce, classificou a tentativa de Polyakov como “profundamente irresponsável”. “É inconcebível que alguém possa ser tão imprudente. Ele não apenas colocou sua vida em risco, mas também a sobrevivência de toda a tribo Sentinelese”, afirmou.