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Áudio revela advogado preso por agressão atacando mulher por “andar como puta”

Advogado preso por agressão é ouvido em gravação insultando uma mulher devido ao seu modo de caminhar

Um áudio enviado por João Neto, advogado detido por agressão em Maceió no dia 14, revela que ele já havia ordenado à sua companheira que deixasse a residência, além de proferir ofensas machistas.

Essa mensagem foi incluída no inquérito policial finalizado na quarta-feira (23) e, conforme a polícia, contribuiu para comprovar as práticas de violência doméstica.

João Neto foi indiciado por “lesão corporal praticada contra a mulher por razão da condição do sexo feminino” e permanece preso desde o dia da agressão.

O áudio mencionado é apenas um dos que a vítima denunciou e foram anexados ao relatório enviado ao MP-AL (Ministério Público de Alagoas), que decidirá se apresentará denúncia contra o suspeito.

O site O Segredo teve acesso ao áudio, que dura pouco mais de um minuto. De acordo com a advogada Júlia Nunes, que representa a vítima, a gravação foi enviada por João no dia 24 de março via WhatsApp. A vítima é uma mulher de 25 anos que manteve uma união estável com o advogado por dois anos.

No áudio, o advogado expressa descontentamento com a roupa curta de academia da companheira, afirmando que ela está em um ambiente “onde tem um monte de homem“. “Eu não tô lhe chamando de puta, eu tô dizendo que seus comportamentos são de puta, certo?“, diz ele. “Faz o seguinte, pegue suas coisas e vá para casa de sua mãe“, acrescenta.

Ele ainda menciona, de forma ríspida, que com aquela roupa ela “mostra o rabo todo“.

Eu não estou aqui para botar essa consciência em você não, certo? Agora, se você quer andar como uma puta, ande, minha filha. Agora ande sozinha, ande sozinha. Você pega as suas coisa, vai para casa de sua mãe. Você anda até nua, porra. Você anda até nua porque você não tem compromisso com ninguém declara João Neto no áudio.

Para a delegada Ana Luiza Nogueira, coordenadora das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher em Maceió, o áudio deixa “evidente a tentativa de controle sobre o corpo da mulher“. “E quanto às palavras proferidas, trata-se de crime contra a honra na seara da violência doméstica“, afirma.

Entretanto, segundo a advogada Júlia Nunes, esse não seria o único caso em que João Neto se refere à expulsão da jovem de casa.

“Ele a expulsou muitas vezes, mas sempre se desculpava, e ela perdoava“, relata Júlia, mencionando que a jovem “está amedrontada” com a repercussão do ocorrido. “Ela é só uma menina que se encantou, se apaixonou e se deu mal“, esclarece.

João Neto foi detido em flagrante no dia da agressão e já teve pedidos de liberdade negados pelo TJ-AL (Tribunal de Justiça de Alagoas) e, nesta quarta-feira, pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Compreenda o caso

A mulher declarou em seu depoimento que foi empurrada, caiu e cortou o queixo ao ser forçada a sair do apartamento onde residiam. A versão da tentativa de expulsão foi confirmada pelo próprio João Neto, que também divulgou imagens internas da casa nas redes sociais. Ao menos uma testemunha presenciou o ocorrido.

A vítima contou que estava no quarto descansando quando João entrou e reclamou, dizendo que ela não estava fazendo nada. João informou aos prestadores de serviço que estavam na casa que eles eram testemunhas do ocorrido. Em seguida, puxou a vítima da cama. Ela pediu para que ele não a tocasse.

Essa parte do depoimento foi confirmada por um prestador de serviço presente no local. Ele afirmou ter ouvido João dizer que queria expulsá-la do apartamento. A mulher ainda relata que, após ser retirada da cama à força, foi empurrada por João, que tentava tirá-la do imóvel. Ela então se agarrou para não ser forçada a sair.

A vítima menciona que estava descalça e, em determinado momento, recebeu um empurrão. Ela caiu e bateu o queixo com força no chão. João também caiu junto.

Em seu depoimento, João disse à mulher que “não teria condições de continuar com a relação” e pediu que ela deixasse o apartamento.

Ele acrescenta ainda que, mesmo após solicitar sua saída, notou que ela “ainda se encontrava no quarto, deitada na cama com ar condicionado ligado“, e afirma ter pegado a vítima “pela barriga para levá-la para fora“. No entanto, devido ao piso escorregadio, ela escorregou e ambos caíram.

Imagens da vítima saindo ensanguentada do apartamento foram capturadas por uma câmera de segurança do prédio. João é visto usando um pano para estancar o sangue.

Mais episódios de violência

A mulher relatou que não foi a primeira vez que enfrentou agressões. Em depoimento à polícia, mencionou um incidente ocorrido em outubro de 2024, quando ele a empurrou e ela acabou batendo a cabeça na cabeceira da cama. Além disso, ele a agarrou pelo pescoço.

A vítima também afirmou que já recebeu ameaças, inclusive com uma arma de fogo. Ela declarou à polícia ter sido enforcada, chutada e empurrada em diversas ocasiões.

Em comunicado à imprensa, a defesa de João Neto declarou que “os fatos divulgados não refletem a realidade do ocorrido“. “Não houve qualquer ato de violência por parte do acusado. Trata-se de um episódio isolado, decorrente de um acidente em que ambas as partes caíram, sem conduta dolosa. Ressalte-se que, no momento, o piso do apartamento encontrava-se molhado em razão de limpeza, contribuindo diretamente para o ocorrido“, afirma.

Ainda segundo a defesa, foi apresentado um vídeo que “comprova a dinâmica dos fatos, reforçando a tese de acidente e descaracterizando qualquer cenário de agressão“.

A defesa já está adotando todas as medidas cabíveis para cessar esse constrangimento ilegal e a indevida restrição de liberdade imposta ao acusado. A defesa reitera seu compromisso com a verdade, com a ampla defesa e com o devido processo legal, confiando que os fatos serão devidamente esclarecidos no curso da investigação diz a nota assinada pelos advogados Minghan Chen, Cícero Pedrosa e Vinicius Guido Santos.

Se você presenciar um episódio de violência contra a mulher ou for vítima de um deles, denuncie o quanto antes através do número 180, que está disponível todos os dias, em qualquer horário, seja através de ligação ou dos aplicativos WhatsApp e Telegram.

O mesmo número também atende denúncias sobre pessoas idosas, pessoas com deficiência, pessoas em restrição de liberdade, comunidade LGBT e população em situação de rua. Além de denúncias de discriminação étnica ou racial e violência contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras comunidades tradicionais.