Neste artigo, Adam Taylor, professor e diretor do Centro de Aprendizagem sobre Anatomia Clínica na Lancaster University, discute sobre os malefícios das unhas em gel para a saúde
De Kylie Jenner e Rihanna a Ariana Grande e Cardi B, as celebridades estão usando unhas longas e acrílicas – muitas vezes enfeitadas com a chamada “nail art” – para expressar estilo pessoal. Esse é um setor em expansão, com próteses de gel ou acrílico entre as tendências atuais mais populares, inclusive no Brasil.
Embora as manicures possam parecer muito cuidadosas, os produtos usados têm potencial para arruinar as unhas naturais saudáveis e até mesmo causar problemas de saúde inesperados em uma pequena proporção de pessoas que as utilizam.
Por exemplo, a cola para fixar o acrílico é, normalmente, uma mistura de álcool, cianoacrilato (espécie de Super Bonder) e metacrilato fotoligado com outros ingredientes, incluindo formaldeído, que é um conhecido agente cancerígeno.
Os produtos químicos contidos nos adesivos de unha podem causar irritação e dermatite. Queimaduras consequentes da cola utilizada na aplicação também são amplamente relatadas. Se derramada na roupa, pode provocar ferimentos, queimando o tecido e danificando a pele por dentro, além de infectá-la.
O uso prolongado de géis e acrílicos também pode levar a unhas pseudo-psoriáticas, em que a pele extra – conhecida como hiperqueratose – que cresce sob a unha se assemelha à lesão crostosa da psoríase. Muitas entusiastas do modismo testam positivo para alergia ao metacrilato de metila.
Em alguns casos, isso pode ser tão grave a ponto de causar a perda permanente das unhas. Outros sofrem de neuropatia periférica – formigamento ou dormência nos dedos – às vezes de forma permanente.
Uma causa improvável de câncer de pele?
Há muitos fatores que contribuem para o risco de câncer, incluindo idade, tipo de pele, exposição prévia e histórico familiar. No entanto, há casos de câncer de pele em que a lâmpada UV para unhas foi considerada uma das causas.
Os formatos postiços em gel são colocados com secadores especiais que emitem luz ultravioleta na forma de UVA, que endurece o gel, convertendo-o em polímeros rígidos.
Quem repete a ação com espaço de poucos fins de semana aumenta significativamente a exposição aos raios UVA já que o gel leva aproximadamente dez minutos para endurecer.
O dorso das mãos pode ser uma das partes do corpo mais resistentes a UV mas, por outro lado, não é protegido por roupas e é um dos locais em que as pessoas mais se esquecem de aplicar o protetor solar. Ou, se aplicam, ele geralmente é lavado e não é reaplicado.
Se você é fã de géis, reduza o risco de exposição aos raios UV aplicando um protetor solar de fator alto 30 minutos antes do horário marcado e use luvas escuras e sem dedos durante o tempo em que estiver na manicure.
Unhas fracas, quebradiças e secas
A remoção de géis e acrílicos geralmente descasca ou raspa fragmentos da placa ungueal (a parte dura da unha). Mesmo que a retirada das próteses seja muito cuidadosa, pode danificar as camadas de queratina, enfraquecendo e tornando a unha quebradiça. Ou mesmo, fazer com que pareçam brancas (uma condição conhecida como pseudoleuconíquia).
Muitos dos produtos químicos usados para limpar e extrair resíduos, inclusive a acetona, também ocasionam ressecamento da unha e da pele ao redor, além de serem absorvidos pela corrente sanguínea.
Há risco de desgastar as unhas naturais, que podem ficar com excesso de preenchimento, causando listras nas extremidades, alterações e danos aos capilares subjacentes.
A onicólise traumática (deslocamento), em que a unha é puxada para fora da pele, dando uma aparência de montanha-russa na junção com o tecido abaixo dela, também é uma ameaça à saúde do aparelho ungueal.
Isso pode abrir a barreira que protege o corpo interno do mundo externo, principalmente nas bordas de ambos os lados da unha que, se infectadas, poderia levar ao diagnóstico de paroníquia (inflamação em volta da unha).
Deixar as unhas postiças por muito tempo nos dedos acarreta o risco de a umidade se acumular criando um ambiente ideal para a onicomicose, que é o crescimento de fungos. Muitas vezes, as alterações na aparência da unha natural causadas por uma infecção fúngica são ocultadas pelo acrílico, de modo que as infecções podem progredir sem serem notadas.
Ambiente de reprodução de bactérias
Mesmo o verniz de unha tradicional não está isento de riscos. Ele pode alterar as leituras do oxímetro de pulso, que mede a quantidade de oxigênio transportada pelo sangue.
Felizmente, na maioria das vezes, essas leituras não são alteradas em um nível clinicamente significativo, mas os géis, acrílicos e vernizes são proibidos em ambientes clínicos porque as lascas de esmalte ou do polimento das unhas são um terreno fértil para bactérias que podem ser transmitidas entre a equipe e os pacientes.
Se você gosta de manicure, talvez seja melhor deixar de lado os géis e acrílicos e se concentrar em cuidar das suas unhas naturais, deixando-as visíveis para que você possa notar qualquer alteração na aparência que possa indicar problemas de saúde, como infecções fúngicas e até mesmo doenças cardíacas.
*Adam Taylor é professor e diretor do Centro de Aprendizagem sobre Anatomia Clínica na Lancaster University.