A cada século que passa, a humanidade parece conquistar novos objetivos, cada vez mais surpreendentes, no campo da medicina. O transplante de órgãos, por exemplo, percorreu longos caminhos desde que começou a ser exercido nas mesas cirúrgicas. Atualmente, seres humanos podem transplantar não apenas corações e fígados, como úteros, mãos e até mesmo rostos.
Mas será que um dia nós seremos capazes de realizar um transplante de cérebro? Pelo que sabe, essa é uma possibilidade — mas continua muito longe de acontecer. Tanto no campo ético quanto na capacidade profissional para tal ato, o transplante cerebral ainda é uma grande dúvida entre os pesquisadores. Veja só quais são as grandes complicações!
Dúvidas no ar
Quando falamos sobre a possibilidade de um transplante cerebral, um dos grandes questionamentos é o seguinte: seria correto salvar a vida de uma pessoa com um corpo de doador completo ou os órgãos desse indivíduo deveriam ser distribuídos para salvar várias outras vidas?
Se ignorarmos o ponto de vista ético, também precisamos lembrar que o cérebro humano é um dos nossos órgãos mais delicados. Além disso, a medula espinhal, que se conecta ao cérebro, não costuma se recuperar bem após ser cortada. Portanto, mesmo que existam registros de animais que tiveram suas cabeças transplantadas, a maioria deles acabou morrendo horas ou dias depois.
No melhor dos casos, algumas cobaias viveram apenas alguns meses. Sendo assim, é possível que algum dia você cruze com uma manchete afirmando que pesquisadores estão cada vez mais perto de realizar transplantes de cabeça em seres humanos. Porém, a realidade é que os obstáculos para tal conquista são incrivelmente grandes.
O problema dos transplantes cerebrais
Hoje em dia, realizar transplantes de órgãos não é mais tão complicado porque conseguimos prevenir a rejeição imunológica com coquetéis de drogas de ponta, permitindo que mesmo tecidos altamente imunes — como a pele — durem décadas após serem transplantados.
Além disso, cientistas também fizeram grandes progressos na recolocação de vasos sanguíneos, o que teoricamente tornaria plausível manter o fluxo de sangue para o cérebro durante uma cirurgia de transplante de cabeça. O grande problema, como citado anteriormente, segue sendo a necessidade de cortar e recolocar uma medula espinhal.
Experimentos passados já testaram a hipótese em transplantes de cabeça em camundongos, mas não há boas evidências até então de que humanos consigam cicatrizar suas medulas da mesma forma que os roedores. O uso de nanomateriais e polímeros especializados vem sendo testado por alguns pesquisadores, mas esses métodos só foram experimentados em animais com fisiologia do sistema nervoso bem diferente dos humanos.
Por fim, uma revisão feita pela History of Neurosurgery afirma que não existem estudos falando sobre como controlar a dor após um transplante de cabeça. Logo, o paciente não só teria que sentir a dor de ter sido essencialmente decapitado, mas também sofreria a dor neuropática central causada por danos na medula espinhal.
Com todas essas informações em mãos, podemos afirmar que o transplante de cérebro pode até ser uma realidade técnica para o futuro, mas existem tantas barreiras impedindo o sucesso dessa operação que ela simplesmente parece improvável de acontecer.