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Fóssil comprova que répteis marinhos pescoçudos eram mais vulneráveis a predadores

Apesar das vantagens evolutivas que mantiveram a ocorrência da característica ao longo de milhões de anos, uma nova análise sugere que a região pode ter se tornado um ponto fraco quando as espécies eram caçadas

Novas análises conduzidas em ossos fossilizados de duas espécies triássicas de Tanystropheus confirmaram hipóteses antigas de que, apesar dos longos pescoços terem sido uma estratégia evolutiva altamente bem-sucedida durante muitos séculos entre os répteis marinhos, eles também representavam um ponto fraco para a predação. Os resultados do estudo foram publicados na revista Current Biology.

Relacionados a crocodilos, pássaros e dinossauros, os Tanystropheus ocupavam os oceanos há cerca de 240 milhões de anos. Seus pescoços únicos, compostos por 13 vértebras extremamente alongadas e costelas semelhantes a suportes, eram estruturas rígidas que ajudavam os animais a emboscar suas presas durante as caças.

Os exemplares analisados fazem parte do acervo do Museu Paleontológico da Universidade de Zurique, na Suíça, e correspondem a duas espécies que conviviam no mesmo ambiente. Uma delas era pequena, com cerca de 1,5 metro de comprimento, provavelmente alimentando-se de animais de casca mole como camarões. A outra era bem maior, com até 6 metros de comprimento, que se alimentava de peixes e lulas.

Ambos os fósseis tinham cabeças e pescoços bem preservados que terminavam abruptamente. Especulava-se que essas estruturas haviam sido arrancadas, mas ninguém havia estudado isso em detalhes. A nova análise dos pesquisadores, porém, atestou que os ossos apresentam marcas claras de mordidas exatamente onde está a região quebrada, confirmando as evidências extremamente raras de interação predador-presa.

“Algo que nos chamou a atenção é que o crânio e parte do pescoço preservados estão intactos, mas não há nenhuma evidência do resto dos animais. Esse fato sugere que, quando chegaram ao local onde foram soterrados, os ossos ainda estavam cobertos por tecidos moles, como músculos e pele –o que significa que eles não foram consumidos pelo predador”, especula Eudald Mujal, coautor do estudo, em nota à imprensa. “Isso faria sentido, já que parece mais proveitoso para o predador se concentrar nas partes mais carnudas do corpo do que ​​no pescoço fino e na cabeça pequena.”

As descobertas confirmam as interpretações anteriores de que os pescoços dos antigos répteis possivelmente também haviam trazido desvantagens. No entanto, os pesquisadores reiteram que as estruturas alongadas foram claramente uma estratégia evolutiva muito bem-sucedida – ela, inclusive, é encontrada em muitas espécies marinhas que viveram ao longo de 175 milhões de anos.

“Em um sentido muito amplo, nossa pesquisa mostra, mais uma vez, que a evolução é um jogo de compensações. A vantagem de ter um pescoço longo superou claramente o risco de ser alvo de um predador por muito tempo. Até os próprios Tanystropheus tiveram bastante sucesso em termos evolucionários, vivendo por pelo menos 10 milhões de anos no que hoje é a Europa, Oriente Médio, China, América do Norte e, possivelmente, América do Sul”, conclui Stephan Spiekman, outro autor responsável pela descoberta.