Em meio à primavera de 1945, nos estertores da Segunda Guerra Mundial, o filme “Sangue e Ouro” traz à tona uma narrativa pulsante centrada em Henrique (Robert Maaser), um soldado alemão desertor, Elsa (Marie Hacke), uma jovem audaz fazendeira, e um conjunto de figuras nazistas de destaque. Henrique, em sua fuga da frente de batalha buscando retornar para casa e sua filha, encontra-se com uma patrulha da SS. O comandante do grupo (Alexander Scheer), determinado a fazer um exemplo do desertor, sentencia Henrique à forca, porém Elsa intercede, salvando-o e oferecendo refúgio em sua fazenda.
Paralelamente, a SS incursiona em uma busca desenfreada por um tesouro judaico oculto em uma vila próxima, encontrando a resistência férrea de uma população já exausta que nega a entrega do ouro. Arrastados nesse frenético cenário, Henrique e Elsa são confrontados numa sangrenta batalha pela posse do tesouro na igreja local. A direção de Peter Thorwarth se destaca ao retratar com maestria a desolação de seus personagens, marginalizados e infelizes. Ele não hesita em abordar questões polêmicas, trazendo uma inusitada vivacidade à trama. Foca em mostrar as contradições de seu protagonista, um combatente que, após 72 meses, percebe ter desperdiçado sua vida numa causa odiosa na qual nunca acreditou genuinamente.
Heinrich, por motivos não explícitos, quer sejam convicções fracas que se dissolveram, a exaustão de uma vida de constante privação, ou uma combinação desses elementos, decide abandonar as tropas de Hitler. Ele se encontra à beira do abismo, pendurado por uma corda, resistindo ao inevitável destino dos desertores. Stefan Barth, responsável pelo roteiro, introduz elementos místicos e metáforas cristãs que complementam a persona de Maaser — um homem tentando se esquivar do martírio de viver com uma consciência manchada pelo sangue de inocentes, mas que agora se depara com uma oportunidade de redenção através de seu próprio sangue.
No desenvolvimento da trama, Thorwarth gradualmente desvia da abordagem espiritualista inicial, mergulhando na densidade da narrativa de guerra, sugerindo até mesmo um romance tardio entre Elsa e Heinrich. Elsa se apresenta como a figura redentora para Heinrich, e o “Sangue e Ouro”, embora repleto de sangue, reserva o ouro a apenas alguns. No final, o ouro parece não ser tão essencial assim.
Filme: Sangue e Ouro
Direção: Peter Thorwarth
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Ação
Nota: 9/10