Médicos fazem primeira cirurgia cerebral em feto no útero
Cirurgia cerebral foi feita em um hospital norte-americano dois dias antes do nascimento de Denver Coleman
Em um feito extraordinário, médicos de um hospital em Boston, nos EUA, repararam cirurgicamente um vaso sanguíneo malformado no cérebro de um bebê enquanto ele ainda estava no útero.
A menina Denver Coleman, nascida em meados de março, recebeu alta hospitalar algumas semanas após o nascimento e não precisou de medicamentos ou outros tratamentos desde então. “Eu a ouvi chorar pela primeira vez e não consigo nem colocar em palavras como me senti naquele momento”, disse a mãe, Kenyatta Coleman, à CNN. “Foi o momento mais bonito poder segurá-la, olhar para ela e depois ouvi-la chorar”.
Em um artigo publicado na quinta-feira (4) na revista Stroke, os médicos descreveram o procedimento inédito, que foi conduzido como parte de um ensaio clínico em andamento.
De acordo com o site LiveScience, o estudo tem como objetivo encontrar uma nova maneira de tratar a malformação aneurismática da veia Galeno (MAVG), uma anomalia rara que afeta os vasos sanguíneos que transportam sangue oxigenado do coração para o cérebro.
Nessa condição, certas artérias do cérebro não se ligam aos capilares – vasos delicados e ramificados que ajudam a diminuir o fluxo sanguíneo – como normalmente fariam. Em vez disso, as artérias despejam sangue em veias na base do cérebro, e esse sangue flui a alta pressão.
O fluxo sanguíneo de alta pressão pode causar insuficiência cardíaca congestiva, pressão arterial elevada nas artérias dos pulmões (hipertensão pulmonar), lesão e perda de tecido cerebral, ou aumento da cabeça (hidrocefalia).
De acordo com um comunicado da American Heart Association (AHA), o MAVG afeta cerca de 1 em cada 60 mil nascimentos. O tratamento padrão ocorre após o nascimento e envolve o bloqueio das conexões artéria-veia da malformação. No entanto, esse procedimento nem sempre pode reverter o início da insuficiência cardíaca, e pode ser tarde demais para evitar danos cerebrais incapacitantes ou fatais.
Cerca de 20 bebês farão parte do estudo
A nova abordagem usa uma cirurgia intrauterina projetada para reduzir o fluxo sanguíneo agressivo do MAVG. Segundo os autores do estudo, o teste deve incluir cerca de 20 bebês, no total, e a pequena Denver foi a primeira a ser submetida ao procedimento.
“Em nosso primeiro caso tratado, ficamos entusiasmados ao ver que o declínio agressivo geralmente visto após o nascimento simplesmente não apareceu”, disse Darren Orbach, codiretor do Centro de Intervenções e Cirurgia Cerebrovascular do Hospital Infantil de Boston, professor associado de radiologia da Escola de Medicina de Harvard e principal autor do artigo que relata o caso.
“Temos o prazer de informar que, com seis semanas, a criança está evoluindo notavelmente bem, sem medicamentos, comendo normalmente, ganhando peso e já voltou para casa”, disse Orbach. “Não há sinais de efeitos negativos no cérebro”.
O procedimento “transuterino” aconteceu quando Kenyatta estava com 34 semanas e dois dias de gestação – um mês após o diagnóstico feito por meio de uma ultrassonografia.
Após o procedimento, Kenyatta Coleman começou a vazar líquido amniótico, o que significa o rompimento da bolsa, então os médicos fizeram o parto por indução vaginal dois dias depois.
A recém-nascida não necessitou de suporte cardiovascular ou cirurgia após o nascimento, sendo monitorada na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal por algumas semanas antes da alta.