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Gloria Perez confirma que Globo pediu para tirar aborto de novela

“Era impossível, tirar o aborto era como tirar o macaco do King Kong”, disse a autora

Após especulações sobre o que teria motivado seu rompimento de contrato com a TV Globo, a autora Gloria Perez confirmou que a razão foi o descontentamento da emissora pelo fato de sua telenovela Rosa dos Ventos ter o aborto como um de seus principais temas, além de trazer uma personagem que aspira se candidatar a um cargo legislativo.

Em entrevista ao Estadão, Perez contou que a empresa chegou a tentar mudar a trama; contudo, a autora considerou que “era impossível” fazer tamanha alteração.

– [A Globo] Pediu que contornasse, descartando o aborto. Era impossível atender: o aborto é o ponto de partida da história, tudo o mais ocorre a partir dele, todas as tramas paralelas se relacionam a ele. Tirar o aborto era tirar o macaco do King Kong – compara.

A escritora explica que a personagem principal seria Mabel (Giovana Antonelli), que é casada com o empresário Murilo (Murilo Benício) e decide se candidatar a um cargo legislativo no Rio Grande do Sul. Murilo, que mantém um caso extraconjugal com Cibele (Grazi Massafera), descobre que a amante está grávida e a obriga a abortar com o objetivo de evitar escândalos envolvendo seu nome e o de sua esposa.

– Cibele, revoltada, parte para a vingança mirando o herdeiro do empresário (Romulo Estrela), que contrata a guarda-costas (Isis Valverde) e se forma o par romântico principal da novela. Como nas histórias de gato e rato, de implicância em implicância, os dois se apaixonam – adiciona Perez.

A autora relata que a Globo chegou a oferecer a extensão do contrato para produzir uma nova história, mas ela rejeitou.

– Era um contrato por obra para fazer a novela que viria depois de Vale Tudo. Decidido o cancelamento, foi proposto assinar uma extensão dele para produzir uma história nova. Preferi não assinar. Tudo foi acordado e feito amigavelmente. Tive a proposta de assinar para produzir outra sinopse e entrar depois do Aguinaldo [Silva]. Optei por não assinar – adicionou.

Apesar do interesse da personagem Mabel em se candidatar às eleições, Gloria Perez diz que não tinha nenhuma intenção de “falar de política, de mostrar comícios, reuniões de partido, de apostar em polarizações”. Ela afirma que seu estilo de trabalho não divide a plateia, mas a une. Também afirmou que a intenção de falar sobre o aborto forçado era “jogar um foco sobre essa forma de violência contra as mulheres”.

– Abordaria por meio de uma situação muito comum e, que eu lembre, ainda não abordada pela nossa dramaturgia. Cibele fica grávida e Murilo exige que ela faça o aborto. Quer continuar o caso, mas não admite o filho, que traria transtorno para sua vida pessoal e enterraria de vez os planos de Mabel, ao envolvê-la num escândalo. Entram em conflito e, quando ele percebe que Cibele está mesmo disposta a levar a gravidez adiante, simula um encontro de reconciliação, no qual ela é dopada e o aborto é feito. A intenção foi jogar um foco sobre essa forma de violência contra as mulheres. São casos muito comuns, que costumam terminar em assassinato – descreve.

Ela descartou a possibilidade de apresentar a novela Rosa dos Ventos para outras emissoras ou plataformas de streaming.

– Não posso. A Globo não me devolveu a sinopse e está no seu direito. Isso já me ocorreu em Barriga de Aluguel [nos anos 80]: fui para a Manchete certa de que a faria lá, mas, como não liberaram, imaginei outra história. E escrevi Carmem – relembrou.

A escritora, que mantém 40 anos de relação profissional com a Globo, frisou ter os “melhores sentimentos e a maior gratidão” pela emissora, apontando que foi através da empresa que fez e consolidou sua carreira na dramaturgia brasileira.