“Era sempre muito educado, atencioso e usava palavras doces e carinhosas, fazia muitas vezes menção sobre a necessidade de se relacionar com respeito, sinceridade, confiança e bom entendimento”.
Este é o trecho de um dos milhares de relatos citados em um blog mantido por uma funcionária pública brasileira, em anonimato, que denuncia golpes amorosos na internet. A história continua até que o homem, que vive um relacionamento virtual com a mulher, começa a pedir dinheiro à ela. Ao longo de um ano, os depósitos foram feitos somam R$ 338.287,00.
Scam romance, como também é conhecido o golpe do amor, é uma fraude onde o golpista induz a vítima a antecipar recursos e passar informações pessoais prometendo benefícios no futuro. Os vigaristas que fazem esse tipo de abordagem também são chamados de “scammers“.
Eles possuem o mesmo jeito de agir: estabelecem uma conexão com uma pessoa na internet, seja por meio de aplicativos de namoro ou até por redes sociais, e começam a manipular e aliciar a vítima para ganhar sua confiança. Utilizam fotos de outras pessoas anônimas e montam todo um cenário. O golpista envolve a pessoa em uma situação psicológica e ela acaba sendo convencida a passar os valores solicitados – e que dificilmente voltarão a ver.
Mas, não são apenas os anônimos que têm a identidade roubada. Famosos também estão na mira dos scammers, que montam perfis falsos em diferentes redes sociais. Em dezembro de 2020, o filho de uma aposentada procurou um escritório de advocacia em São Paulo pedindo ajuda para reaver milhares de reais após a mãe ter sido vítima de estelionato sentimental na internet.
A mulher, de 61 anos, havia transferido para um homem que se identificava como um ator de Hollywood o montante de R$ 208.400,00, além disso ela vendeu a casa em que vivia para ir atrás do suposto namorado em Los Angeles, nos Estados Unidos. Agora, a advogada especialista em crimes digitais, Eduarda Chaves, trava um embate na justiça para que o banco reconheça o erro.
Ela explica que o banco constatou que a conta onde os valores depositados era fraudulenta e encerrou o contrato, mas não deixou de recusar os depósitos não só da aposentada como de outras vítimas. O caso ainda corre na Justiça de São Paulo. Chaves ainda afirmou que a instituição bancária respondeu judicialmente que não tinha interesse na conciliação.
“É indiscutível que o Banco não tomou as necessárias providências para impedir a abertura da conta fraudulenta. A tese principal é de que, mesmo sabendo que aquela conta recebia valores de vítimas de golpe, o Banco manteve a mesma em operação, ficando inerte e assumindo para si a responsabilidade sobre o ocorrido”, disse a advogada.
Doutora em direito penal e especialista em Crimes Eletrônicos e Crimes Econômicos, a advogada Carla Rahal Benedetti, explica que esses criminosos utilizam a estratégia de “phishing“, que consiste em uma fraude online para roubar senhas de banco e demais informações pessoais para usar em fraudes. “Eles estudam a vítima, o perfil dela e se aproximam, de forma virtual, onde acham que podem conseguir alguma confiança. Vão conversando com várias pessoas e, se alguém morder a “isca”, começam o trabalho de alienação. O estelionatário sentimental é uma pessoa envolvente que sabe brincar com as palavras e aos poucos busca confiança nas pessoas”, afirma.
Como se proteger
Em uma cartilha do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil , grupo responsável por “aumentar os níveis de segurança e de capacidade de tratamento de incidentes das redes conectadas à internet no Brasil”, os especialistas abordam as principais formas de evitar os golpes na internet.
Confira alguns tópicos:
1 – Desconfie sempre
Na internet circulam informações de qualquer tipo e origem, inclusive falsas e maliciosas. Acreditar cegamente em tudo que recebe ou acessa, facilita a ação de golpistas.
2 – Busque mais informações
É preciso desconfiar, manter a calma e checar se a mensagem que recebeu ou o conteúdo que viu na internet são confiáveis, para não cair na lábia de golpistas. Informe-se:
3 – Fique atento ao tom das mensagens
Golpistas exploram os sentimentos das pessoas, como medo, obediência, caridade, carência afetiva e ganância, para convencê-las a agirem como eles querem e de forma rápida, sem pensar. Desconfie de mensagens contendo:
4 – Questione se o conteúdo faz sentido
Golpistas costumam enviar mensagens em massa com conteúdo genérico esperando que alguém “morda a isca”. Questionar se o conteúdo faz sentido para você ajuda a não cair em golpes. Pergunte-se, por exemplo:
4 – Não responda, denuncie
Ao responder uma mensagem você confirma que sua conta está ativa. Pode ainda revelar informações e preferências que ajudam o golpista a ser mais convincente. Denuncie mensagens, anúncios e perfis
maliciosos.
5 – Faça o boletim de ocorrência
O boletim de ocorrência (B.O.) é o registro policial que ajuda você a se defender caso seja vítima de golpe, em especial nos casos de perda financeira e de furto de identidade. É geralmente exigido para contestar fraudes e acionar seguros. Registre ocorrência junto à autoridade policial caso:
Quanto à primeira vítima citada nesta matéria, no relato contido no blog, ela não informa se conseguiu reaver os valores. No entanto, há uma outra história de outra mulher que também foi vítima da mesma pessoa e perdeu R$ 278.330,00 com o mesmo esquema.