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“Eu escolhi não ser um homem branco”, afirma Pedro Cardoso

Ator defende que, embora não possa mudar a biologia, ele pode fazer escolhas culturais que o afastem da “branquitude”

O ator e escritor Pedro Cardoso, famoso por seu papel como Agostinho Carrara na sitcom A Grande Família, afirmou ter escolhido “não ser um homem branco”. O artista relata que, embora não possa modificar biologicamente suas próprias características, ele decidiu rejeitar a cultura da “branquitude”.

– Eu me insurgi. Me fiz diferente do que estaria condenado a ser pelo lugar na sociedade e no tempo que me coube existir neste mundo. Eu passei a me enxergar no lugar de branquitude no momento em que a africanidade brasileira, de uns anos para cá, começou a dizer que eu estava nesse lugar – declarou.

A fala ocorreu em entrevista para a Folha de S.Paulo na última quarta-feira (19). Na ocasião, ele explicava o motivo de ter escolhido a editora independente Barraco Editorial, descrita como periférica e antirracista, para publicar seu novo livro de crônicas escrito com o jornalista Aquiles Marcel Argolo, Dias Sem Glória.

– Fiquei muito assustado porque, independentemente de minhas ideologias e apostas políticas, a branquitude é um lugar inevitável de nascimento. E, para quem nasce nesse lugar no Brasil, não basta reconhecer nossas injustiças sociais. É preciso se mover em direção à igualdade – acrescentou.

Nesse sentido, Cardoso conta que optou por mudar algumas de suas atitudes, como “ler autores que não me chegam na primeira mão”, “limpar o meu próprio banheiro” e “buscar produzir mais justiça econômica na minha atuação no mundo”.

A parte relacionada à “justiça econômica” foi o que o motivou a descartar grandes editoras e lançar seu novo livro pela Barraco Editorial.

– É um ato político e econômico, não um ato de generosidade. A justiça social de que a gente tanto fala é uma questão de justiça econômica. O nome da liberdade é dinheiro. No Brasil, o dinheiro ainda está nas mãos da branquitude europeia. Por isso que a Barraco Editorial é um projeto de justiça econômica – adicionou.

– O Brasil branco não ouve. Mas a voz deles chegou até mim. É uma voz muito organizada intelectualmente e muito bem falada. E tem uma dor que só um psicopata não reconhece. A força deles me ajudou a ser uma pessoa melhor – concluiu.