Tempestade subtropical batizada de Biguá, fenômeno que não impactava o estado desde maio de 2022, atibnge o Rio Grande do Sul hoje
Tempestade subtropical batizada de Biguá, fenômeno que não impactava o estado desde maio de 2022, atibnge o Rio Grande do Sul hoje
A Marinha do Brasil confirmou no final do sábado a formação do ciclone subtropical Biguá como uma tempestade subtropical rente à costa do Litoral Sul do Rio Grande do Sul, possibilidade que era informada pela MetSul Meteorologia desde a metade da semana passada.
Biguá se torna, assim, o primeiro ciclone atípico (subtropical ou tropical) a afetar o Rio Grande do Sul desde maio de 2022, quando a tempestade subtropical Yakecán causou estragos e deixou vítimas no Uruguai e no Rio Grande do Sul. É ainda o primeiro ciclone atípico na costa brasileira no mês de dezembro em 2021, desde a tempestade sbtropical Ubá.
Estações meteorológicas na região de Pelotas e Rio Grande, logo ao Norte do centro do ciclone, indicavam valores de pressão atmosférica de 995 hPa, muito baixa, no começo deste domingo.
A estação da barra do Porto de Rio Grande registrou rajadas de vento ao redor de 80 km/h no final do sábado e na madrugada deste domingo, o que levou ao fechamento do porto para operações de praticagem. Ao amanhecer, a estação de Capão do Leão (região de Pelotas) anotou rajadas acima de 70 km/h. A área de vento mais intenso, porém, estava ao Sul, na região da reserva do Taim, onde não há medição meteorológica.
De acordo com as projeções da Marinha, Biguá manterá o status de uma tempestade subtropical até a manhã deste domingo, devendo ser rebaixada à categoria de depressão tropical da tarde para a noite deste domingo à medida que a pressão no centro do ciclone se eleva e o sistema enfraquece em vento.
Este ciclone é considerado atípico por ser subtropical e, por essa razão, acaba sendo batizado com um nome pela Marinha do Brasil. Biguá é ave marinha na língua tupi e o segundo nome a ser usado na nova lista de nomes de ciclones atípicos da armada brasileira. O primeiro foi Akará para uma tempestade subtropical que se formou na costa do Sudeste do Brasil em fevereiro deste ano.
A regra é que os ciclones (centros de baixa pressão) não tenham características subtropicais ou tropicais em nossa região. Já os ciclones extratropicais – que não recebem nomes – são comuns no Atlântico Sul e se formam principalmente das latitudes do Rio Grande do Sul para o Sul.
A diferença entre um ciclone extratropical e um ciclone subtropical está na estrutura, localização e mecanismos que os alimentam. O ciclone extratropical, que é o comum em nossa região, se forma em latitudes médias e altas.
Estão associados a frentes frias e quentes, e é alimentado por diferenças de temperatura entre massas de ar frio e quente (gradiente térmico horizontal). Possui um núcleo frio, com temperatura central menor que nos arredores, com frentes meteorológicas bem definidas.
Já o ciclone subtropical se forma em latitudes subtropicais, geralmente entre 20° e 40°, e sua alimentação é mista, combinando gradiente térmico horizontal com processos associados ao calor liberado pela condensação de vapor d’água.
O ciclone subtropical apresenta uma estrutura intermediária, sendo um ciclone híbrido, com características de ciclones tropicais e extratropicais, e um núcleo frio em altura e quente em baixos níveis da atmosfera.
Último ciclone atípico no Rio Grande do Sul foi em 2022
Em 15 de maio de 2022, um ciclone extratropical atravessou a região Sul do Brasil e estacionou no mar, próximo à costa. O sistema se ocluiu e se separou de seu ciclone extratropical, adquirindo características subtropicais no processo.
Na manhã de 17 de maio, o ciclone completou sua transição para uma tempestade subtropical e recebeu o nome de Yakecan. Movendo-se em direção ao Noroeste, Yakecan afastou-se da costa, perdendo gradualmente suas características subtropicais. No final do dia 19 de maio, o sistema adquiriu características frontais e voltou a ser um ciclone extratropical.
Em sua trajetória, a tempestade causou neve nas serras gaúcha e catarinense. Duas pessoas morreram no Uruguai e no Brasil devido à passagem do ciclone, uma em Porto Alegre como consequência de naufrágio de pequena embarcação no Guaíba. Yakecan foi o último nome da lista da ciclones atípicos da Marinha que estava em uso desde 2011.
A região mais afetada pelo ciclone subtropical Yakecan foi o litoral, onde as rajadas de vento passaram de 100 km/h. Várias estações meteorológicas não estavam operacionais, o que prejudico o registro da velocidade do vento na faixa costeira do Rio Grande do Sul no evento.
Municípios como Mostardas, Palmares do Sul e Tavares ficaram às escuras durante a passagem do ciclone pela costa. Em Tramandaí, o vento destelhou o hospital da cidade. Mais ao Norte na costa, rajadas violentas de vento causaram extensos danos na cidade de Três Cachoeiras.
Em Porto Alegre, o vento foi muito forte durante a noite de 17 para 18 de maio de 2022, quando o ciclone Yakecan estava exatamente na costa gaúcha. As rajadas causaram queda de árvores e falta de luz. O vento era acompanhado de chuva forte e temperatura baixa.
Em Santa Catarina, as rajadas de vento chegaram a 157 km/h no Mirante da Serra do Rio do Rastro, no município de Bom Jardim da Serra. Com a força do vento, um caminhão que estava parado na área do mirante chegou a ser virado nas rajadas mais fortes.
Yakecan foi uma tempestade subtropical não convencional. Normalmente, este tipo de sistema meteorológico se forma na costa brasileira e avança depois para Sul ou Leste. O ciclone de maio de 2022, ao contrário, avançou de Sul e se aproximou muito da costa do Uruguai e do Rio Grande do Sul, antes de se distanciar para Leste na altura de Santa Catarina.
Uma vez que estava acompanhado de uma forte massa de ar frio, a circulação de umidade do ciclone subtropical Yakecan de maio de 2022 acabou por favorecer pelas nuvens de maior desenvolvimento a ocorrência de neve e chuva congelada nas áreas de maior altitude do Sul do Brasil, em especial no Planalto Sul Catarinense.
Biguá terá muito menos impacto que Yakecán
O ciclone subtropical Biguá que afeta neste domingo o Rio Grande do Sul terá muito menor impacto que Yakecán de maio de 2022. O sistema pode provocar queda de árvores e destelhamentos em alguns locais do extremo Sul gaúcho, mas o maior impacto será na rede elétrica da região com falta de luz em diferentes pontos do Sul do estado.
METSUL
As áreas mais populosas do estado, no caso a região de Porto Alegre e cidades ao redor, devem escapar da parte mais intensa do campo de vento do ciclone. Devem ter a intensificação do vento na segunda metade do dia, entretanto sem previsão de rajadas tão fortes quanto no Sul gaúcho. A previsão é de vento, em média, de 50 km/h a 70 km/h.
O vento mais forte deve se concentrar neste domingo de Pelotas e Rio Grande para o Sul em direção ao Chuí, Santa Vitória do Palmar e a Lagoa Mirim, onde as rajadas ficam entre 80 km/h e 100 km/h, mas com registros isolados acima de 100 km/h. Esta é uma área do Rio Grande do Sul de muito baixa densidade populacional, composta na maior parte por banhados, lagoas e lavouras, assim que não são esperados muitos estragos.
Onde o vento deve ser mais intenso, na área entre a reserva ecológica do Taim e a Lagoa Mirim e o Chuí, no eixo da BR-471, não há estações meteorológicas que reportem vento. A mais próxima ao Sul do Instituto Nacional de Meteorologia, na barra do Chuí, está com o sensor de vento (anemômetro) sem funcionar.
A rotação do ciclone deve fazer com que as rajadas de vento forte, de 60 km/h a 90 km/h, se estendem a pontos mais a Oeste da Serra do Sudeste e também à região da Campanha neste domingo, principalmente até meados da tarde de hoje.
No decorrer deste domingo, a baixa pressão (ciclone) se move para Norte-Nordeste e isso deve levar vento ao Centro do estado e para a região de Porto Alegre, porém mais fraco, de 50 km/h a 70 km/h na maioria dos locais, uma vez que o sistema perde força e passa a ser uma depressão subtropical.