A iniciativa é um desdobramento direto de pesquisas anteriores nas quais a engenheira ambiental Erica Hartmann e sua equipe caracterizaram microrganismos nativos de escovas de dentes e chuveiros. O projeto, apelidado de “Operação Boca de Vaso” — sim, um nome sugestivo –, foi inspirado pela preocupação de que um vaso sanitário com descarga pudesse gerar uma nuvem de partículas de aerossol a outros objetos do banheiro.
“Queríamos saber quais micróbios vivem em nossas casas. Se você pensar em ambientes internos, superfícies como mesas e paredes são realmente difíceis para os micróbios viverem, eles preferem ambientes úmidos. E onde há água? Dentro de nossos chuveiros e em nossas escovas de dente”, explica Hartmann, em comunicado. Por isso, o estudo recolheu escovas de dentes usadas e amostras de chuveiro, coletadas com a ajuda de cotonetes.
Vírus possivelmente aliados
Com as amostras em mãos, a equipe de pesquisa utilizou da técnica de sequenciamento de DNA para examinar os vírus presentes nas escovas de dentes e chuveiros. Mais de 600 vírus diferentes foram identificados. Os resultados deixaram todos impressionados e renderam até a publicação de um artigo, no jornal científico Frontiers in Microbiomes, na última terça-feira (8).
“Não encontramos praticamente nenhuma sobreposição nos tipos de vírus entre chuveiros e escovas de dente”, lembra Hartmann. “Também vimos muito pouca sobreposição entre quaisquer duas amostras. Cada chuveiro e cada escova de dente são como sua própria pequena ilha. Isso apenas ressalta a incrível diversidade de vírus que existem por aí”.
Embora tenham encontrado poucos padrões entre todas as amostras, os cientistas notaram a prevalência de mais micobacteriófagos do que outros tipos de vírus. Esses organismos são conhecidos por infectar micobactérias, um tipo de bactéria que causa doenças como lepra, tuberculose e infecções pulmonares crônicas em seres humanos.
Hartmann imagina que, no futuro, o conhecimento sobre esses agentes poderá ser aproveitado para se utilizar os micobacteriófagos no tratamento dessas graves infecções. “Queremos olhar para todas as funções que esses vírus podem ter e descobrir como podemos usá-los”, destaca.
Como limpar seus objetos
Até lá, no entanto, a equipe alerta as pessoas para não se preocuparem com a vida selvagem invisível que vive em seus banheiros. Mais do que isso, os cientistas recomendam fazer a limpeza dos chuveiros apenas com vinagre ou sabão comum, para retirada a do acúmulo de cálcio, sem eliminar completamente a presença desses micróbios.
“Os microrganismos estão por toda parte, e a grande maioria deles não nos deixará doentes”, reitera a líder do projeto. “Quanto mais você ataca vírus e bactérias com desinfetantes, mais eles provavelmente desenvolverão resistência ou se tornarão mais difíceis de tratar”.