Goiânia – No último dia 11 de setembro, celebrou-se o Dia do Cerrado. Considerado o segundo maior do país e berço da águas, o bioma tem perdido sua vegetação nativa e sofrendo com queimadas.
Também conhecido como savana brasileira, o Cerrado ocupa 25% do território nacional, em 11 estados que se estendem do Nordeste à maior parte do Centro-Oeste, e mantém áreas de transição com praticamente todos os biomas, exceto os Pampas. Pelas características adquiridas no contato com mais quatro ecossistemas (Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga), é considerada a savana mais biodiversa do planeta.
De acordo com estudo realizado pela Mapbiomas, o Cerrado perdeu 27% de sua vegetação nativa nos últimos 39 anos, o que representa 38 milhões de hectares. Ao longo desse período, o bioma teve 88 milhões de hectares atingidos pelo fogo, o que causou a perda de 9,5 milhões de hectares.
Embora seja mais resiliente aos incêndios, pesquisadores apontam que as mudanças climáticas associadas ao uso indiscriminado do fogo têm ameaçado a integridade de sua cobertura natural.
Queimadas em Goiás
De acordo com informações do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), só até o dia 12 de setembro, Goiás registrou 2.408 focos de incêndio. Para se ter uma ideia, em todo o mês de setembro de 2023, o estado registrou 651 focos de queimadas.
A preocupação com o fogo se intensificou tanto no estado, que há a probabilidade de setembro registrar mais focos de incêndios que o total contabilizado durante todo o ano de 2023. No ano passado, houve 3.160 pontos de queimadas, quase metade dos focos registrados de 1º a 9 de setembro de 2024.
Sete dos 20 municípios considerados os maiores produtores de grãos e agropecuária de Goiás estão entre as cidades com a maior incidência de incêndios no estado. Responsáveis pela produção de 19,1 milhão de cabeças de gado ao longo de 2023, Rio Verde, Itumbiara e Mineiros somam 843 ocorrências de incêndio em 2024, conforme o Corpo de Bombeiros.
Os municípios também foram responsáveis, ao lado de Catalão, Quirinópolis, Luziânia e Santa Helena de Goiás, por produzirem 1,7 milhão de toneladas de grãos no ano passado, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Juntas, as cidades correspondem a 1.676 dos registros de incêndios contabilizados pelo Corpo de Bombeiros neste ano.
Entre os municípios citados, Catalão e Rio Verde lideram a lista com 367 e 337 ocorrências, respectivamente. No ranking geral da corporação, as cidades perdem apenas para Goiânia (1.430), Aparecida de Goiânia (628) e Anápolis (399) – as cidades mais ricas de Goiás. Ao todo, foram registrados mais de 9,1 mil incêndios em Goiás em pouco mais de oito meses.
Comitê de crise
Em razão da grande incidência de incêndios e focos de fogo, o governo de Goiás criou um gabinete de Gestão Integrada com o objetivo de frear as queimadas e seus efeitos, bem como identificar e responsabilizar pessoas e entidades que provocarem incêndios. As ações estão sendo desencadeadas pelas forças policiais de segurança e órgãos de defesa ambiental.
A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) intensificou as ações para identificar e responsabilizar pessoas que provocam incêndios. Segundo o delegado Luziano de Carvalho, titular da Dema, atualmente estão em andamento 137 procedimentos de investigação, além da autuação em flagrante de 17 pessoas pela prática de incêndios.
Outras cinco já foram indiciadas após comprovação de ação criminosa por atear fogo em áreas da Serra das Areias, Parque Lagoa Vargem Bonita e Parque das Laranjeiras, na Região Metropolitana de Goiânia.