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Mais de mil vírus desconhecidos são achados em geleira na China

Cientistas perfuraram núcleo da Geleira Guliya, no Planalto Tibetano

Ao estudarem as profundezas da Geleira Guliya, no Planalto Tibetano da China, cientistas fizeram uma descoberta impressionante: a de que o núcleo de gelo esconde mais de 1,7 mil vírus pré-históricos diferentes, grande parte deles nunca antes vistos pela Ciência.

Publicada na revista Nature Geoscienc em 26 de agosto, a pesquisa foi feita por microbiologistas e paleoclimatologistas da Universidade Estadual de Ohio, que perfuraram mais de 300 metros da geleira em questão. Em seguida, eles extraíram DNA de cada segmento de gelo, utilizando um método chamado análise metagenômica. Assim, identificaram várias cepas virais até então inéditas.

– Apenas cerca de um quarto das espécies virais que encontramos compartilhavam semelhanças em nível de espécie com qualquer um dos vírus identificados em quase 1.000 metagenomas previamente capturados em conjuntos de dados globais – informou a equipe de cientistas, destacando a falta considerável de vírus glaciais nos bancos de dados disponíveis.

De acordo com eles, os 1,7 mil tipos de vírus encontrados na Geleira Guliya se formaram há 41 mil anos e se adaptaram a três grandes mudanças climáticas, de frio a calor. Se por um lado o estudo constatou que os vírus encontrados não representam ameaça à saúde humana porque só são capazes de infectar organismos unicelulares e bactérias, por outro a descoberta alerta para o temor entre especialistas de que o derretimento das demais geleiras do planeta devido ao aquecimento global possa liberar vírus mortais desconhecidos capazes de gerar pandemias entre os humanos.

Vale lembrar que, em 2016, na Sibéria, patógenos mortais foram liberados com o derretimento do permafrost, camadas de solo que permanecem congeladas por longos anos e que também são conhecidas como pergelissolo. Na ocasião, esporos de antraz escaparam da carcaça de um animal que estava congelado há 75 anos, fazendo com que dezenas de pessoas fossem hospitalizadas e uma criança morresse.

Dessa forma, estudos conduzidos nessas estruturas maciças de gelo são importantes porque eles guardam registros detalhados sobre o ecossistema e os climas pelos quais o planeta Terra passou, além de ajudar a entender como funcionam diversos micro-organismos.

– A compreensão dessas interações antigas oferece uma oportunidade única para pesquisas futuras tanto na virologia quanto na ciência climática. Ao estudar como os vírus antigos reagiram às mudanças climáticas passadas, os pesquisadores podem obter informações valiosas sobre como os vírus se adaptam às mudanças climáticas globais em curso (…) Acreditamos que o gelo das geleiras (…) continua sendo um recurso essencial para desvendar a história do clima da Terra e a vida que ela sustentou, especialmente porque as reservas de gelo das geleiras estão diminuindo rapidamente – pondera o estudo da Universidade de Ohio.