Tecnologia e Ciência
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Vapor em disco de estrela tem 3 vezes mais água do que os oceanos da Terra

A estrela HL Tauri, a 450 anos-luz de nós, na constelação de Touro, apresenta no seu redor estrutura onde planetas podem estar se formando em meio ao vapor d’água

Pesquisadores conseguiram capturar imagens de vapor d’água no disco ao redor de uma jovem estrela, exatamente onde planetas podem estar se formando. A descoberta foi feita a partir do observatório Atacama Large Millimeter Array (ALMA) e os resultados foram publicados hoje (29) em um artigo na revista Nature Astronomy.

Os astrônomos detectaram a presença de três vezes mais água do que a encontrada em todos os oceanos da Terra no disco interno da estrela jovem semelhante ao Sol, HL Tauri, situada a 450 anos-luz de distância da Terra, na constelação de Touro.

“Eu nunca havia imaginado que poderíamos capturar uma imagem de oceanos de vapor d’água na mesma região onde um planeta provavelmente está se formando,” diz Stefano Facchini, astrônomo da Universidade de Milão, na Itália, em comunicado do Observatório Europeu do Sul (ESO).

Fria e estável, a água foi detectada na região onde existe uma lacuna no formato de anel já conhecida ao redor de HL Tauri. As lacunas estão sendo esculpidas nos discos das estrelas, criando corpos semelhantes a planetas em órbita, enquanto eles vão acumulando material para crescer.

“Nossas imagens recentes revelam uma quantidade substancial de vapor d’água em uma variedade de distâncias da estrela, incluindo a lacuna onde um planeta poderia potencialmente estar se formando no momento atual,” declara Facchini.

Em um disco estelar é possível encontrar grãos de poeira, que representam as sementes do processo de formação planetária. Astrônomos acreditam que em regiões suficientemente frias para que a água congele sobre essas partículas de poeira, o processo de aglutinação dos grãos se torna mais eficiente.

Facchini ainda sugere que o vapor d’água poderia influenciar a composição química dos planetas. “Nossos resultados mostram como a presença de água pode influenciar o desenvolvimento de um sistema planetário, assim como fez há cerca de 4,5 bilhões de anos em nosso próprio Sistema Solar”, diz o pesquisador.

Registrar os indícios que levaram a essa constatação não foi uma tarefa fácil. O vapor d’água abundante na atmosfera da Terra degrada os sinais astronômicos, o que torna a observação da água a partir de um telescópio terrestre um árduo trabalho. Contudo, o observatório ALMA possui condições especiais para esse tipo de incumbência. A instalação operada pelo ESO foi construída no Deserto do Atacama, no Chile, um ambiente alto e seco especificamente que mitiga o desgaste dos sinais.

“Até o momento, o ALMA é a única instalação capaz de resolver espacialmente a água em um disco frio formador de planetas,” diz o coautor do estudo, Wouter Vlemmings, professor na Universidade de Tecnologia de Chalmers na Suécia.

O ESO argumenta que a elaboração de novas tecnologias como o ALMA ajudarão os pesquisadores a entender cada vez mais o papel da água no processo de formação planetária.

“Com atualizações acontecendo no ALMA e o Extremely Large Telescope (ELT) do ESO entrando em operação dentro da próxima década, a formação de planetas e o papel da água nesse processo se tornarão mais claros do que nunca”, afirma o observatório.