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Mães de crianças com autismo têm níveis diferentes de metabólitos no sangue, sugere estudo

Variações estão associadas a baixos níveis de folato, vitamina B12 e moléculas conjugadas com carnitina, o que, de acordo com os pesquisadores, está relacionado a alterações no metabolismo

Análises de sangue, realizadas por pesquisadores do Instituto Politécnico Rensselaer, Estados Unidos, em mães – de dois a cinco anos depois do parto – apontaram que as que têm filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tinham níveis de metabólitos significativamente diferentes em comparação com mães de crianças com desenvolvimento típico. Metabólitos são moléculas que surgem como produto final ou intermediário do processamento dos alimentos pelo organismo. 

Na pesquisa, os cientistas analisaram amostras de sangue de 30 mães cujos filhos foram diagnosticados com autismo e 29 mães de crianças com desenvolvimento típico. No momento da coleta das amostras, os filhos das mulheres tinham entre 2 e 5 anos.

A equipe encontrou diferenças em vários níveis de metabólitos entre os dois grupos de mães. Muitas das variações estavam associadas a baixos níveis de folato, vitamina B12 e moléculas conjugadas com carnitina, que pode ser sintetizada pelo corpo e está presente naturalmente em carnes vermelhas, como boi e porco. Os pesquisadores ressaltaram, porém, que não identificaram correlação entre comer mais carne e ter um nível mais alto de carnitina no sangue.

De acordo com Juergen Hahn, chefe do Departamento de Engenharia Biomédica de Rensselaer e um dos autores do estudo, os resultados sugerem que as variações encontradas estão mais relacionadas a diferenças metabólicas do que de dieta. “O exame de sangue com base nos nossos parâmetros não é capaz de identificar se seu filho tem autismo ou não, mas poderia dizer se você está sob maior risco”, disse Hahn, em nota. “E a classificação de maior risco, neste caso, pode ser significativa. Com base nesses resultados, estamos conduzindo um novo estudo em amostras de sangue coletadas durante a gravidez, para determinar se esses metabólitos também são diferentes durante a gestação”.

A equipe por trás desse estudo já descobriu padrões de certos metabólitos no sangue de crianças com autismo que podem ser usados para prever o diagnóstico do transtorno com sucesso. Em entrevista a CRESCER, o professor e pesquisador em Neurociência da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), Alysson Muotri, ressalta, porém, que os resultados do estudo não têm relevância estatística, por terem sido obtiidos a partir de uma amostragem muito pequena: “Para poder tirar alguma conclusão, seria necessário analisar centenas de milhares de famílias”.

Ele explica que já existem algumas relações entre autismo e metabolismo comprovadas pela ciência, mas elas são limitadas aos individuos afetados pelo transtorno e não se estendem, por enquanto, aos progenitores. “Diversos subtipos de autismo têm alterações em genes que controlam o metabolismo”, explica. “Além disso, outros subtipos de autismo estão relacionados ao metabolismo de mitocôndrias. No entanto, tudo isso é visto no próprio autista, não nas mães. A única relação comprovada entre o metabolismo da mãe e autismo diz respeito ao peso materno. Mães obesas têm mais chances de ter um filho autista”, explica.